Legião Urbana: repercussão do show-tributo com Wagner Moura

Em 11 de outubro de 1996, uma das vozes mais importantes do Brasil no século passado (que estranho falar assim), Renato Russo, se calou. E a banda da qual ele fazia parte, acabou poucos dias depois. Na época, anúncios no jornal ou rádio era o que havia de mais parecido com uma rede social (nos moldes de hoje). Foi atendendo a um desses anúncios que participei da organização de um show-tributo que aconteceu no final de semana seguinte na concha acústica da Universidade Federal do Ceará. Não lembro dos detalhes, que banda tocou, quais músicas entraram no set list, o que exatamente eu fiz (só sei que foi a primeira vez das pouquíssimas vezes que apareci num jornal) mas sei que o local (que não é pequeno) estava bem lotado como eu jamais veria depois.

Shows como esse (e muito maiores) aconteceram em todo o Brasil na época e no anos seguintes, sempre levando muitos fanáticos pela banda às lágrimas. Exemplo disso, o show do último Rock In Rio no Rio de Janeiro, no ano passado, com a participação da Orquestra Sinfônica Brasileira e que será lembrado como um dos shows mais importantes e memoráveis do evento, ao lado de medalhões como METALLICA e SEPULTURA e outros momentos não tão memoráveis, mas que sempre iremos lembrar.

Ontem, 29 de maio, e hoje, 30, o canal de televisão MTV organizou um novo concerto-tributo, no Espaço das Américas, em São Paulo, pelos 30 anos da banda. A homenagem teve o ator Wagner Moura, fã assumido da banda, como vocalista principal, ao lado dos remanescentes Dado Villa Lobos e Marcelo Bonfá, com Rodrigo Favaro (baixo), Caio Costa (teclado e arranjos) e Gabriel Carvalho (violão), além também de participações dos músicos Fernando Catatau (CIDADÃO INSTIGADO) e Bi Ribeiro (PARALAMAS DO SUCESSO) e do guitarrista britânico Andy Gill, do GANG OF FOUR. "Tempo Perdido" abriu o show e "Será" decretou o seu fim, com Wagner, Dado, Marcelo e boa parte dos presentes com os olhos cheios de lágrimas.

Este não deve ser um show que vá se repetir. Wagner Moura, o Capitão/Coronel Nascimento, que já tinha cantado canções do Legião em dois filmes anteriores e também tem sua própria banda, SUA MÃE, está iniciando carreira internacional. E a família Manfredini não viu com bons olhos a indicação de um ator para o posto que foi de Renato.

Wagner Moura, ao contrário do que se poderia prever, não interpreta Renato Russo, como já tinha levantado Marício Stycer, do UOL, após assistir a um ensaio da banda. E seus dotes vocais também não são lá essas coisas. Mas, o ator se entregou de corpo e alma às canções compostas (exclusivamente, na maioria das vezes) por Renato Russo. E quem o ouviria? O coro da multidão, que sempre canta todas as vírgulas de todas as músicas, abafa qualquer nota fora do tom. O colunista da Folha de São Paulo, Tony Goes, chegou a chamar o show de "o maior karaokê do Brasil". E isso deve se repetir no segundo show e em todos os outros que porventura vierem a ser promovidos com a participação de algum ex-LEGIÃO ou com as inúmeras bandas cover que se espalham por todo o território brasileiro (representados aqui no Ceará pela excelente banda CODA).