No final dos anos oitenta e começo dos anos noventa, uma geração inteira começou a ouvir rock and roll e heavy metal influenciados por um grupo americano que, apesar da curta existência, até hoje provoca acaloradas discussões: o Guns N´Roses.
O paulista Felipe Fleury é um destes caras. Dono de uma coleção respeitável de itens do GNR, ele conta a sua história, que é muito parecida com a de qualquer pessoa que tenha vivido aquela época, a partir de agora para os leitores da RockNews!
Antes de tudo muito obrigado por participar da Collector´s Room. Para começar o nosso bate-papo, gostaria que você se apresentasse aos nossos leitores.
Meu nome é Felipe, tenho 30 anos, moro em São Paulo, sou publicitário e colecionador de Guns N´ Roses desde 1989.
Você lembra como foi o seu primeiro contato com a música, e como você descobriu e se apaixonou pelo rock e pelo metal?
Meu primeiro contato com a música deve ter sido por volta de 1987, sempre fuçava a vitrola do meu pai. Adorava pôr e tirar o disco, não sei por que. Comecei ouvindo rádio e gravava muitas coisas em K7. Iniciei ouvindo dance-music, depois house, ganhava dos meus pais muitos LPs e K7s desses estilos. Eu amava Information Society, daí um dia ouvi um assobio ...
Junto com dance music sempre curti baladinhas de grupos como Crowded House, Toto e A-ha, e eis que um dia a música do assobio tocou na novela.
Diria que o rock veio bem depois, não digeria muito sons pesados. Para mim, “Patience” deveria ser mais um A-ha da vida, mas graças a Deus eu estava errado.
Quando você percebeu que estava se transformado de um simples fã em um colecionador?
Quando procurei saber quem tocava “Patience”, me mostraram um álbum em que ela não estava, um tal de “Appettite for Destruction”, daí descobri que “Sweet Child O’ Mine” e “Paradise City” eram também dos mesmos caras. Nossa, daí quis os dois discos, o que tinha “Patience”, um tal de “GN’R Lies”, e o “Appettite …”. Daí em diante foi difícil eu voltar a ouvir A-há e Information Society.
Minha maior luta era ir bem na escola para poder ganhar mais discos do Guns N´Roses, mas, poxa, que pena, eles só tinham aqueles dois álbuns. Visto isso, comecei a descobrir revistas, comecei a acompanhar a história e correr atrás do que estava ao meu alcance. Ía às bancas, comprava o que dava de revistas onde eles apareciam, e a partir daí percebi que não era mais um simples fã. Tudo o que possuía a palavra Guns N´Roses eu dava um jeito de comprar, e até hoje faço isso.
Felipe, sacia a minha curiosidade: quantos álbuns no geral você possui, e quantos do Guns´N Roses?
Olha, devo ter uns 200 álbuns de rock em LP ,dos quais uns 80 com certeza são do Guns. Entre eles estão os originais, os bootlegs, os pictures, os shapes, os uncut shapes, os etcheds todos em 7 e 12 polegadas. Tem também uns 80 CDs entre singles, samples, promos e afins.
Além do Guns, de quais outros grupos você possui mais material?
Hoje em dia sou fanático por rock progressivo. Me lembro que as atenções voltaram pra esse estilo justamente quando o Guns começou a enrolar demais pra soltar algo. Ficou cansativo ter apenas o “Appettite …”, o “Lies” e os “Illusions” para digerir. O “Spaghetti Incident” também não saciou como novidade, mas curti, então procurei outras praias, mas nunca deixei de colecionar Guns.
Foi aí que eu conheci um amigo que é louco por Marillion e Rush e, através dele, aprendi a gostar de progressivo. Tive uma escola com esse cara e até hoje sou fissurado em rock progressivo. Costumo brincar dizendo que “Estranged” é a música mais progressiva do Guns, então, além do GNR as bandas que mais tenho material são Rush, Marillion e IQ, sem contar os Pink Floyd, Yes, Genesis, Pendragon, Dream Theater ...
Quando você começou a colecionar material do Guns?
Então, como disse acima, foi “Patience” meu ponto de partida. Eu sempre colecionei material do grupo, independente da formação e conflitos da banda. Até hoje coleciono e pouco me importo quem está ou não na banda. É claro que sou fã da primeira formação e confesso que sem Slash fica difícil de aguentar, mas a minha prioridade de uns dez anos pra cá é a coleção. Costumam dizer que sou colecionador de GNR e related, ou seja, tudo que tem Guns impresso eu pego. Ex: estou pra comprar um picture bootleg em vinil do Metallica que se chama “Appettite for Destruction” (risos).
Que outros formatos, além de vinil e CD, você possui na sua coleção?
Possuo, além dos CDs, como já disse, LPs de todas formas e tamanhos, bem como LDs, VHS originais, DVDs originais e bootlegs, K7s e uma coisinha ou outra em MP3 só pra ver o que está rolando hoje, mas confesso que detesto MP3. Ou eu tenho original ou tá fora da coleção. Não contabilizo CD-R e afins.
O que falta ainda conseguir para você ter literalmente “tudo” o que o Guns lançou?
Bem, eu não penso desta maneira pois não sou milionário (risos), mas com certeza tem muitos itens ainda que gostaria de ter. Sei que possuo alguns bem raros, de pouca tiragem, mas têm algumas coisas que passaram batidas na época em que eu não trabalhava e não podia comprar.
Hoje em dia, para se ter tudo, primeiro você tem que conceituar bem o que é “ter tudo”. Há promos sem capas em CDs e em LPs que são um buraco sem fim. Às vezes é apenas uma música que muda e daí nasce um novo item. No meu caso, se tenho um CD “made in UK” mas sei que existe um “made in Venezuela”, só terei tudo quando tiver todos os “made in” existentes. Pra mim é assim que vejo o “ter tudo”. Há uma vantagem em conceituar assim: a coleção não tem fim e fica cada vez mais desafiadora.
Um item que já vi a venda, não podia comprar na época e nunca mais achei é o “Yesterdays” em vinil picture de 12 polegadas. Se alguém tiver, contate-me.
Vamos voltar um pouco no tempo então: qual foi o primeiro álbum que você comprou, e por quê?
Do Guns foi o “Appettite for Destruction”. Mesmo conhecendo GNR através de “Patience”, foi o “Appettite …” que comprei primeiro. Minha querida bisavó me deu o “Lies” de amigo secreto mais tarde, foi surreal ganhá-lo assim. Antes de ter o “Lies”, me lembro que apareceu em casa a trilha da novela global “Que Rei Sou Eu?”, de onde ouvia “Patience”. Só pra complementar, também corro atrás de coletâneas onde tenha músicas deles, como discos de novelas, por exemplo.
Mas o primeiro álbum que comprei, sem ser do Guns, deve ter sido um da Tracy Chapman, aquele que tem “Baby Can I Hold You?”. Sempre curti a voz dela.
Qual o item que você considera o mais raro da sua coleção?
Acho que pra qualquer colecionador de GNR o item mais almejado é o EP “Live Like a Suicide”, de 1986. Trata-se do primeiro registro gravado em LP. São quatro faixas ao vivo somente, em ambos os lados do vinil, que mais tarde seria o complemento do “GN’R Lies”. Me parece que saíram apenas 10.000 cópias e eu ganhei a minha de aniversário, foi a maior emoção no dia que isso aconteceu. O disco é lindo!!! Em um dos rótulos há um desenho grande do selo do próprio GNR, o Uzi Suicide. Veja nas fotos. Long life to SIDE A: Reckless Life, Nice Boys, Move to the City e Mama Kin e no SIDE B: idem!
Qual foi o maior número de álbuns que você comprou de uma única vez?
Quando recebi meu primeiro salário do exército fui à famosa Galeria do Rock e comprei seis CDs, o dólar era 1 pra 1, era uma maravilha. Comprei um do Fish – “Songs from the Mirror”, um do Floyd – “A Momentary Lapse of Reason” e mais quatro que não me lembro. Já dá pra perceber a influência progressiva com esses dois né?
Quantos álbuns em média você compra por mês?
Hoje compro mais DVDs, média de dois por mês. E fico procurando as raridades nos ebays da vida.
Tem algum item que, só de alguém chegar perto, você já gela e morre de ciúmes, tem um carinho especial e não venderia de jeito nenhum?
Sim, o “Appettite for Destruction” Picture LP e o “Live Era” LP Quádruplo. E é claro, o EP “Live Like a Suicide”. Esses três, na mesma proporção. Tem também um “Sweet Child O’ Mine” em forma de cruz. Esse, putz, sai de perto (risos).
Entre todos os itens que você possui, quais foram os que deram mais trabalho para conseguir?
O “Pretty Tied UP” promo CD e o EP japonês “Live from the Jungle” em LP (um que a capa é igual a do “Appettite”). Ambos peguei em um leilão na internet, mas foi fogo, porque vários lances simultâneos fizeram o preço subir muito rápido, mas arrematei. Dei lances no último segundo.
Toda coleção sempre possui diversos itens curiosos. Qual você considera o item mais estranho da sua?
O mais estranho é uma versão japonesa que tenho do “The Spaghetti Incident?”, que na embalagem diz vir com o álbum completo e mais dois bootlegs em formato MP3, e para minha surpresa, não há MP3 algum! E mais: a capa do CD é perfeita, mas as páginas do encarte, acredite, são do acústico do Nirvana (risos). Podem rir, é isso mesmo, mas, como sou GNR e related, esse item, além de estranho, se tornou muito louco na coleção!
Que discos você está procurando há tempos, e ainda não conseguiu?
O “Yesterdays” Picture LP de 12 polegadas e o “Metal Petals” Bootleg de 12 polegadas também em vinil. Já os vi, mas na época não tinha grana. Nunca mais vi sinal deles! Por favor me arrumem! (risos)
A troca de materiais é uma prática comum entre os colecionadores. Às vezes, na empolgação de conseguir algum item mais raro, acabamos nos desfazendo de alguns discos que, mais tarde, acabam fazendo falta. Sendo assim, eu queria saber qual disco você vendeu, trocou ou meteu no meio de algum rolo, e acabou se arrependendo depois?
Do Guns, nenhum. Jamais faria isso, só mesmo por problemas financeiros sérios ou de saúde.
Como você guarda e conserva a sua coleção?
Por ordem de lançamento, singles separados de promos. Guardo por formato, eu diria. Os LDs ficam com os LPs. Os bootlegs ficam por ordem alfabética, pois nem sempre as datas de lançamento são verdadeiras.
Eu queria que você fizesse agora um top#5 com os itens do seu acervo que você mais curte.
1. EP “Live Like a Suicide” LP
2. “Live Era” LP Quádruplo
3. “Appettite for Destruction” Picture LP de 12 polegadas
4. “Estranged” Promo CD
5. “Sweet Child O’ Mine” Shape LP da cruz
Quais seriam, para você, os dez melhores álbuns de todos os tempos?
1. Appettite for Destruction – Guns N´Roses
2. The Dark Side of the Moon – Pink Floyd
3. Animals – Pink Floyd
4. Misplaced Childhood – Marillion
5. Ever – IQ
6. Moving Pictures – Rush
7. Close to the Edge – Yes
8. Selling England by the Pound – Geneses
9. Aqualung – Jethro Tull
10. Vigil - Fish
O que você tem ouvido ultimamente, e o que destacaria para os leitores da RockNews!?
O novo CD do Rush, “Snakes and Arrows”. Não é dos melhores, mas vale a pena. Ah, e as novas do GNR de estúdio que vazaram. Axl se fodeu, tomara que vazem todas (risos).
Qual é o limite da sua coleção? Deixa eu ser mais claro: qual é o seu objetivo final com essa coleção, até onde você quer chegar com ela?
O objetivo é colecionar sempre, mostrar para outros colecionadores e principalmente correr atrás do que me falta. Gostaria muito, por sinal, de conhecer colecionadores, nunca os vi. Aproveito a oportunidade para que entrem em contato comigo pelo MSN: huseg@hotmail.com
Qual você acha que será o destino dos seus discos com o passar dos anos, com você ficando mais velho?
Não sei. Seria interessante que, se eu vier a ter filhos, eles pelo menos os guardem, mesmo curtindo outros estilos.
Qual você acha que foi, e ainda é, o papel, a importância e a influência do Guns N’ Roses para a música?
Concordo quando a mídia diz que eles surgiram numa época em que o rock estava meio apagado, sem atitude, sem nada. Acho que o Guns reascendeu a chama do rock, com todos os exageros e polêmicas envolvendo o grupo, mas hoje, com a música digital e com a facilidade com que aparecem novas bandas, creio que ficou um grande nome e uma grande referência para os novos adeptos do estilo. Sei que é um pé no saco o eterno adiamento do suposto novo CD, o “Chinese Democracy”, mas, com certeza, na era dos downloads, pelo menos com esta imbecil estratégia de Axl Rose de adiar tanto, acredito muito que esse álbum num primeiro momento será mais comprado do que baixado! Antes que você pergunte, com certeza comprarei o nacional, o importado, o LP e tudo que vincular-se a ele, assim como fiz com todos os outros. Ah, tomara que surjam grandes singles dele.
Qual a sua visão de fã a respeito do que aconteceu com o Guns´N Roses, que era a maior banda de rock do mundo (e uma das maiores da história) e, por conflitos internos, entrou em crise e até hoje não conseguiu se recuperar?
Então, eu era Guns e mais nada. Hoje tenho outras opções, como o progressivo. O problema é exclusivamente com Axl. Me parece que ele não conseguiu lidar com seu próprio sucesso, com sua fama. Como disse, a banda teve um papel importante no rock, mas Axl levou tudo pro buraco. Não vejo o mesmo brilho no Velvet Revolver, acho que uma banda precisa dos integrantes da outra.
Por falar nisso, minha coleção é independente do que acontece com a banda. Também tenho itens do Slash’s Snakepit, do Izzy Stradlin e do Duff Mc Kagan.
Você curte os trabalhos paralelos dos antigos membros do grupo, como o Velvet Revolver e os trabalhos solo dos caras?
Como sou GNR e related, tenho também os discos do Izzy, do Slash, do Duff, enfim, de todos. Confesso que os ouvi pouco. O Velvet é legalzinho. Quero o vinil do primeiro.
Como está a sua expectativa para o lançamento do já lendário “Chinese Democracy”, que, ao que tudo indica, chegará ao mercado, finalmente, em 2007?
Como comentei acima, é tanta expectativa que acredito que venderá bastante, dizem que é o disco mais vendido não lançado (risos).
Felipe, o que você acha que teria ocorrido com o Guns se os conflitos internos não tivessem surgido e terminado com a banda?
Como se sabe, a banda não acabou, Axl detém os direitos do nome Guns N´Roses e, desde então, ele colaborou para a “ruína”. Acredito que se ele não tivesse sido tão estrela, hoje o Guns seria muito mais referência e teria uma carreira muito mais sólida, não que isso seja necessário.
Nestes anos todos esta paixão pela música certamente propiciou a você diversas experiências interessantes e curiosas. Conta aí alguma que você viveu por causa da sua paixão pela música.
30 de abril de 1996. Show do Fish, ex-vocalista do Marillion. Poucas horas antes nos preparávamos, eu, amigos e mais o amigo que citei no início que é doido por Marillion, para assistir ao primeiro show dele no Brasil. Levamos encartes de CDs, máquina fotográfica, com um único pensamento: o Palace tem um palco baixinho, é bem provável que consigamos um autógrafo. Estávamos delirando com um pensamento desses, mas, eis que antes mesmo de o show começar, ainda do lado de fora, poucas pessoas mais o meu grupo, perceberam que o Fish e sua equipe andavam do outro lado da rua, discretos em direção contrária a porta do Palace. Resolvemos seguir e bingo: o cara foi jantar. Pegamos a mesa do lado, ficamos esperando a hora certa e eis que o próprio Fish começou a brincar com a gente. Enfim, um pré-show como jamais imaginávamos, nas mesas do Zilerthal, com autógrafos e fotos de sobra e, como se não bastasse, ao fim do show ainda atendeu um monte de fãs no estacionamento distribuindo autógrafos e tirando fotos.
P S: isso repetiu-se na apresentação dele em 2001, mas sem o jantar.
Ah, preciso dizer: o show do Guns no Anhembi em 10/12/1992 foi excepcional, nunca senti tanta emoção em minha vida!
Espetacular!Isto sim, é uma coleção de respeito!
ResponderExcluirQue inveja. FANTÁSTICO.
ResponderExcluirEu queria muito o concerto no Tokyo Dome, em 1992 Guns N' Roses - "3 Days In Tokyo". Alguém sabe onde há?
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