Texto de MICK WALL da Classic Rock Magazine
Traduzido por Nacho Belgrande
“Então você é um daqueles caras curtidos no rock que acreditam que sabem tudo que é preciso saber sobre o Metallica. A parte boa [os anos bons, até e incluindo o ‘Black album], a parte ruim [Load – Reload] e a feia [a vergonhosa luta contra o Napster].
Mas você está preparado para perdoar, porque honestamente, no palco eles ainda mandam ver melhor do que qualquer outra banda por aí, incluindo os ‘pula-pula’ do Slayer. Além disso, quanto mais velho você fica, mais você começa a gostar de ‘Load’.
Agora, apesar disso, eles foram longe demais, você diz. Gravar um disco com Lou Reed? O que em nome de Cliff Burton é essa porra? Se eles quisessem fazer algo nessa de colaboração, por que eles não se reuniram com Dave Mustaine e reviveram a chama original que deu vida ao thrash, ao speed, ao metal de arrebentar?
OK, permita-me que eu lhe explique. A razão pela qual o Metallica fez um disco com o Lou Reed é porque é uma idéia muito interessante, completamente inesperada. E não é isso que fez do Metallica um grupo diferente dos outros por todos esses anos? E o porquê deles sempre atraírem tanta paulada dos pseudo-fãs e dos metidos a críticos?
Desde ousarem colocar ‘Fade to Black’ – uma balada acústica, como é que eles tiveram a pachorra! – em seu segundo disco, ‘Ride The Lightning’, até fazerem um filme, ‘Some Kind of Monster’, sobre o quão inseguros e fudidos eles eram na verdade, resultando em seu disco mais zoado da carreira, ‘St. Anger’, passando pela pecha de vendidos ao lançarem o ‘Black Album’, o Metallica fez tudo que pode para não jogar pelas regras.
A recompensa foi um nível de sucesso e reconhecimento muito além dos domínios do rock e do metal, ao ponto de onde seus verdadeiros contemporâneos não serem as bandas que eles deixaram para trás como o Slayer, Megadeth e Anthrax, nem as bandas das quais o Metallica pegou sua inspiração como o Deep Purple, Iron Maiden e o Aerosmith. Hoje em dia, o único modo de entender até onde a estrela do Metallica os levou é medindo-os contra bandas que transcenderam seus gêneros de maneira parecida, como o Led Zeppelin e o U2.
E, não, Cliff Burton, que a essa altura está morto há mais tempo do que ele esteve vivo, não estaria revirando-se em seu túmulo ao pensar no Metallica trabalhando com Lou Reed. Na verdade, foi Cliff quem introduziu o resto da banda à música de Reed através de seu amor pelo Velvet Underground. Isso foi nos dias quando Cliff também estava apresentando o grupo a discos de Kate Bush, Peter Gabriel, The Police e Stanley Clarke.
O Velvet Underground foi, e permanece sendo, um dos grupos de rock mais loucos, genuinamente subversivos que jamais existiu. Ouça à viagem pela morte de 17 minutos deles, ‘Sister Ray’ e me diga se eles não esticaram as fronteiras do rock. Isso, diga-se de passagem, numa época quando James Hetfield e Lars Ulrich ainda usavam calças curtas.
Quando à subseqüente carreira solo de Reed, mais uma vez, procure faixas assassinas, de arrepiar os cabelos como ‘Street Hassle’, ‘Kicks’ ou qualquer coisa de seu arrebatador disco ‘Berlin’ e me diga se esse cara não é capaz de se garantir com o Metallica? Falando sério, é pela banda que eu tenho medo, quando o assunto é quem tem mais chance de empurrar esse projeto para além de seus limites.
Tal como Lou cantou certa vez:
‘Algumas pessoas, elas saem pra dançar
E outras pessoas, elas têm que trabalhar…
E também há aqueles desgraçados
Bem, eles vão te dizer que tudo é simplesmente uma merda’
Não seja uma dessas pessoas.”
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