quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Axl Rose: ‘ Vocês São Todos Desprezíveis’ – Parte V



As ramificações da saída de Slash, entretanto, seriam devastadoras. Como Duff diz agora, tudo começou a ruir violentamente depois que “Slash virou as costas e disse, ‘Que se foda’. Ele e Axl não se falavam mais. Tinha se tornado algo irracional”.Em retrospecto, Duff diz, era apenas uma questão de tempo até que Slash saísse porta afora. Os dois sempre tinham sido próximos. Quando Duff se separou de sua primeira esposa Mandy em meados do Natal de 1989, foi Slash quem o amparou, permitindo que ele ficasse em sua casa, mudando seus planos de Natal para ficar com Duff. Com o passar do tempo, todavia, Duff sentiu-se cada vez mais como um intermediário na disputa de Slash com Axl, “aquele a quem ambos recorriam, e eu fiquei com a impressão de estar sendo manipulado por crianças”.Quando Slash saiu, no começo Duff resignou-se à vida na banda sem seu velho amigo. Quando, um ano depois, Axl decidiu que Matt Sorum seria o próximo a tomar a bota, Duff soube que era o fim pra ele também.


De acordo com Matt, ele saiu depois de uma acalorada discussão com Axl – sobre Slash. Eles tinham conversado no estúdio quando Paul Huge comentou que tinha visto Slash tocar com sua banda, a Snakepit, no [programa televisivo] David Letterman Show na noite anterior e que tudo “soava como uma merda e parecia uma merda”.Matt diz agora: “Ele estava falando merda do Slash. Eu disse, ‘Escuta filho da puta, quando eu estiver na mesma sala, eu gostaria que você não falasse porra nenhuma do Slash. Ele ainda é meu amigo. Você não serve pra amarrar o sapato daquele cara. Ele tem mais talento no dedinho do pé do que você, filho da puta, cala a boca!’ E daí Axl pulou na minha cara. Eu disse, ‘Quer saber, Axl, mano? Você está fumando pedra se acha que essa banda é o GN’R sem o Slash. Você vai tocar ‘Sweet Child O’ Mine com a porra do Paul Huge? Sinto muito, cara, não vai ficar bom. A porra de ‘Welcome to the Jungle’ sem Slash? E Axl diz, ‘Eu sou o Guns N’ Roses – eu não preciso de Slash’. Eu disse, ‘Quer saber? Não, você não é.’ E a gente ficou nessa xanice; ficou aquela cutucação por uns 20 minutos. E daí ele finalmente disse, ‘Bem você vai pedir as contas/’ Eu disse, ‘Não, eu não peço a porra da conta;’ E ele disse, ‘Bem, então você ta despedido, caralho.’

“Paul Huge saiu correndo atrás de mim no estacionamento e disse, ‘Porra cara? Volta lá e pede desculpas’! Eu disse, ‘Vai tomar no cu, Yoko! Tô fora!’ e foi isso. Eu fui pra meu palácio de seis andares de rock star com dois elevadores e meu Porsche. Eu estava produzindo uma banda chamada Candlebox na época, eles estavam morando na minha casa. E eu disse, ‘eu acabo de ser despedido’. Eles disseram, ‘Ah, que nada, ele vai te chamar de volta’, e eu disse, ‘Não, não dessa vez’. Porque ele já tinha me despedido antes, mas ele sempre me ligava de volta. Eu disse, ‘Não, acho que não’. E cerca de um mês depois, eu recebi a carta dos advogados.”

Duff: “Matt nunca foi um membro integral da banda, ele estava no assento ejetor e Axl disse ‘Eu vou mandar ele embora’. Eu respondi que essa decisão precisava de mais do que uma pessoa pra ser tomara já que éramos uma banda, que ele sozinho não representava a maioria. E por causa disso Matt disse a ele que ele estava errado. A verdade é que Matt estava certo e Axl estava de fato errado.”

Mas Axl não escutava, e já fazia tempo que não. “eu pensei, eu nunca toquei por dinheiro e não vou começar agora,” diz Duff. “Eu tenho uma casa, eu estou financeiramente seguro.”

Isso, foi contudo, “meu pior momento de minha carreira no Guns. Eu saí pra jantar com Axl e disse a ele, ‘Já deu, cara. Essa banda é uma ditadura e eu não me vejo tocando sob essas condições. Ache outra pessoa.’”

E foi em 1997, que o Guns N’ Roses começou a transformar-se na banda que carrega o nome hoje em dia. Com o tecladista e parceiro de longa data de Axl, Dizzy Reed como o único sobrevivente da formação do sexteto de Use Your Illusion e Paul Huge ainda teimosamente no meio de tudo, o resto da banda agora era agregado pelo ex-guitarrista do Nine Inch Nails, Robin Finck – recomendado originalmente por Matt, aconselhando a Axl que ele seria um grande parceiro para Slash, que então foi ouvido respondendo: “Não, ele seria um grande substituto para Slash” – o baixista Tommy Stinson [cujos discos ‘Tim’ e ‘Pleased to Meet Me’ com sua ex-banda, The Replacements, inspiraram uma geração de bandas de rock alternativo] e o ex-baterista do Vandals, Josh Freese [natural da Flórida e criado em Los Angeles, também conhecido com o ‘Bruce Lee da bateria’].

Foi nesse período que começou de fato o trabalho sério em material novo. Ainda que Axl ainda não se decidisse quanto a uma metodologia de trabalho que resultasse no tipo de resultado musical esotérico que ele estava procurando, Axl tinha testado desde o astro techno Moby, o ex-baixista do Killing Joke,Youth, e em abril de 1998, o ex-produtor de Marilyn Manson e do Nine Inch Nails Sean Beavan. Mas ninguém durou muito.

Youth [nome de batismo: Martin Glover] diz que agora ele sentiu que o mal de Axl era ‘em parte, o perfeccionismo. A psicologia é que se você tem algo lançado, você é julgado – então você quer ficar numa posição onde não seja julgado.”Enquanto Moby lembra de alguém” emocionalmente reservado “e paranóico que não tinha mais certeza do que queria fazer.” Ele parecia um pouco com um cachorro que tinha apanhado.”Ele ainda diz que Axl tornou-se” Meio defensivo quando eu perguntava a ele sobre os vocais. Ele apenas dizia que ele ia trabalhar em cima deles mais cedo ou mais tarde. Eu não ficaria surpreso se o disco jamais fosse lançado, eles têm trabalhado nele já faz tanto tempo.”“.

Nos bastidores, os executivos da Geffen estavam começando a entrar em pânico. Eles ofereceram a Youth um prêmio adicional se ele conseguisse terminar o disco. Trabalhando inicialmente no setup da mansão em Malibu, apenas tocando violão enquanto encorajava Axl a cantar, ele lembra de como eventualmente Axl “simplesmente pulou fora, disse, ‘eu não estou pronto’. Ele estava bem isolado. Não havia muita gente na qual ele confiasse. Era muito difícil passar pelas paredes que ele havia construído.”

Instruindo seus engenheiros de estúdio que continuassem gravando quaisquer ideias que vários músicos que ele tinha convidado tocassem, chegou um ponto onde Axl estava recebendo até cinco CDs por semana com vários mixes diferentes de canções propostas. Com o tempo, uma pilha de mais de 1000 CDs e fitas DAT tinha se erguido, tudo meticulosamente arquivado e rotulado. “Era como a biblioteca do Congresso ali dentro,” diz outro empregado do estúdio.

A vida pessoal de Axl estava igualmente à deriva ao longo desse período. Se os anos 80 tinham sido mais do que bondosos com ele, os anos 90 pareciam ser a hora do pagamento. Ainda sofrendo com o esmagador fim de seu precioso caso com Stephanie, todo ano, quando chegava o aniversário dela, ele “se trancava por semanas” duma vez. Ele confessou que muitas das canções que ele estava agora tão tortuosamente tentando terminar eram diretamente sobre ela, e falavam abertamente de sua esperança que um dia, o filho dela, Dylan, as ouvisse e ‘soubesse da verdade’ sobre o relacionamento.

A dissolução gradual da banda que ele tinha trabalhado tão duro para construir também afetou Axl muito mais do que ele estava preparado para admitir, até mesmo para si próprio. Sua separação de Slash, em particular, ele via como ‘um divórcio’. Quando Shannon Hoon morreu de uma overdose acidental de drogas, em Nova Orleans, 1995, ele sentiu muito. Axl se sentia como um mentor do jovem músico. Sua morte trágica e desnecessária convenceu Axl de que a fama era uma armadilha ainda maior do que as drogas que de fato tinham tirado a vida de seu amigo.

O pior ainda estava por vir, e foi logo após a morte de Shannon que Axl recebeu a noticia de que sua mãe, Sharon, estava doente com câncer. Ainda confuso quanto a seus sentimentos sobre ela, ele vacilou entre querer estar com ela e precisar estar sozinho. Ela tinha apenas 51 anos, e apesar dele amá-la, Axl ainda não tinha exatamente a perdoado por não ‘protegê-lo’ quando criança do abuso físico e mental que ele sofreu por parte de seus dois pais. Ainda assim, Axl, Amy e Stuart insistiram em voar até Indiana para visitar a mãe deles não muito tempo antes dela morrer. Quando Sharon finalmente faleceu, nas primeiras horas de 28 de Maio de 1996, o filho mais velho dela ficou completamente devastado.

Quando o antigo colega e colaborador ocasional de Axl, West Arkeen morreu com apenas 36 anos, exatamente um ano depois, Axl começou a pensar que era uma maldição. West tinha trabalhado em seu próprio projeto, The Outpatience, que tinha acabado de lançar seu disco de estréia, ‘Anxious Disease’ [com contribuições de Axl, Slash, Duff e Izzy]. Mas seus planos tiveram que ser temporariamente abandonados quando um churrasco deu muito errado e ele foi levado ao hospital com queimaduras de segundo e terceiro graus por dois terços de seu corpo. Voltando pra casa da UTI apenas 10 dias depois, acredita-se que ele tenha ‘acidentalmente’ ingerido uma overdose de opióides que tinham sido receitados para dor, resultando em sua morte precoce. Contudo, permaneceu a suspeita de que o cantor e compositor, que tinha sido viciado em heroína bissextamente, tinha deliberadamente se aplicado uma dose maior do que a receitada.

Como se quase um insulto, foi também em 1997 que uma peça musical de teatro, ostensivamente sobre Axl, chamada de ‘White Trash Wins Lotto’ [‘O Caipira Ganha na Loteria’], começou a ser encenada. Escrita e narrada pelo ex-frontman do Wall of Voodoo Andy Prieboy, White Trash rapidamente arrebatou um culto de seguidores em Los Angeles, onde suas piadas satíricas sobre executivos gananciosos da indústria musical e os roqueiros ignorantes que eles exploravam e lançavam ao estrelato – baseadas vagamente na história de Axl saindo do Meio-Oeste para achar a glória em Hollywood – pareciam bem autênticas. Tendo começado como um monólogo no teatro Largo, onde músicos e comediantes competiam regularmente por espaço, no fim da década, ‘White Trash’ tinha se tornado uma bem-sucedida produção da Broadway, o equivalente da Costa Oeste de Hedwig: Rock, Amor e Traição, gozando do culto mórbido em torno de Jim Morrison enquanto explorava o vazio do estrelato Hollywoodiano, repleto de strippers de Sunset Boulevard com coristas no estilo de ‘Gigi’ e jovens do Meio-Oeste transformados em ídolos. A figura de Axl foi interpretada com inofensividade inócua por Brian Beacock.




Em uma típica manobra promocional, Axl foi convidado para assistir à peça mais de uma vez, mas se recusou até a reconhecer que sabia de sua existência, ou seu papel na inspiração dela. Ao invés disso, ele levou a coisa toda como um insulto a sua inteligência e ao trabalho duro que ele tinha posto em sua jornada real desde a obscuridade da cidade pequena até as alturas da fama internacional – e notoriedade. No fim das contas, a coisa toda só o encorajou a se tornar ainda mais recluso, convencido agora que ele havia se convencido que só o ridículo esperava por ele lá fora, na por assim dizer, vida real.

[continua]

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