segunda-feira, 11 de junho de 2012

Metallica: A histórica entrevista para a Playboy – Parte I



Entrevista publicada originalmente na edição de 2001 da Playboy estadunidense


Mesmo quando o Metallica está em silêncio, eles dão conta de fazer barulho.

Em uma manhã no meio de Janeiro, no meio da maior pausa entre uma turnê e sessões de gravação que a banda jamais teve, o Metallica emitiu um comunicado à imprensa direto, mas emocionado, no qual o baixista Jason Newsted anunciava sua saída do grupo devido à ‘razões particulares e pessoais e aos danos físicos que eu impus a mim mesmo ao longo dos anos’. Algumas horas depois, uma fonte próxima ao Metallica disse a Playboy que a decisão de Newsted resultara de uma reunião de nove horas e meia com a banda no dia anterior no Ritz Carlton Hotel em São Francisco, que por sua vez seguiu uma longa conferência uma semana antes. A baixa de Newsted, disse a fonte, tinha sido ‘muito bem discutida’ pela banda.

Sob alguns aspectos, foi apenas a costumeira celeuma em torno do Metallica, que passou boa parte do ultimo ano [2000] em procedimento de ataque – ou como eles dizem, uma contraofensiva – ao Napster. O site atraiu, estima-se, 38 milhões de usuários em seus primeiros 18 meses permitindo aos fãs que fizessem escambo de arquivos musicais sem pagar qualquer tarifa; resumindo, eles forneciam música grátis. O Metallica entrou com um processo por suposta quebra de direito autoral e extorsão, e no dia 11 de julho, o baterista Lars Ulrich – cuja campanha pública contra o Napster foi repleta de bravatas típicas – testemunhou contra o site no Senado Federal dos EUA.

Entre politicagem e coletivas de imprensa, o Metallica também tocou música. ‘I Disappear’, uma nova faixa para a trilha Sonora do filme ‘Missão Impossível 2’, foi nomeada para o MTV Video Music Awards. A banda lançou ‘S&M’ um álbum duplo gravado com a Orquestra Sinfônica de São Francisco. Eles excursionaram durante o verão com Kid Rock, que emprestou seus vocais quando o vocalista James Hetfield perdeu três shows por causa de um acidente de Jet Ski. Até  [canal televisivo] VH1 abraçou os outrora párias, homenageando a banda em um particularmente sangrento episódio da séria ‘Behind The Music’. O ano 2000, diz o baixista Jason Newsted, ‘foi possivelmente o ano em que o Metallica mais ficou em evidência em sua história. ’

Nós enviamos o jornalista free lancer Rob Tannenbaum entrevistar a última das grandes bandas de rock. Ele descobriu que apesar dos membros da banda não estarem em contato uns com os outros durante o hiato, um não saiu da cabeça do outro. O relatório dele:

Eu não fiquei surpreso por Jason Newsted ter saído do Metallica. Apenas dois meses antes, eu tinha passado um dia com cada um dos quarto, e eu nunca havia visto uma banda tão conflituosa e fissurada. A maioria das alfinetadas era coberta com humor – Newsted gozava das habilidades vocais de Hetfield, Hetfield zombara de Ulrich à bateria, e Ulrich, que eu entrevistei por ultimo, respondeu a várias das frases de Hetfield com escrutínio.”

Mas uma tensão genuína estava evidente nessas entrevistas – a última a ser conduzida com essa formação do Metallica – porque todos eles tinham uma característica em comum: todos falaram de sua necessidade de solidão. Paradoxalmente, essa é uma banda de solitários, e o conflito entre unidade e individualidade estava bem aparente.”

PLAYBOY: Além de sua eloquência natural, por que Lars se tornou o porta-voz da banda contra o Napster?

HETFIELD: Minha esposa e eu estávamos tendo nosso segundo filho [Castor, nascido em Maio de 2000]. E a família vem em primeiro lugar. Então Lars teve que correr com a tocha, e fizemos algumas manobras erradas. Você sabe como é, Lars pode ser meio falastrão e um moleque arrogante por vezes. Eu me senti mal em certas entrevistas: “Ah cara, não fala isso.”

ULRICH: Eu disse algumas coisas que eram quase estúpidas. Quando o Limp Bizkit abraçou o Napster e levou U$ 2 milhões para tocar nessa ‘turnê gratuita’ – é possível tocar shows gratuitos sem dinheiro de patrocinadores, porque nós fazemos isso – eu disse que aquilo era um engodo total. Eu sei que muitas pessoas odeiam Fred Durst, mas eu acho que ele é de fato muito talentoso. Eu e Fred fizemos as pazes. Quando eu abro a boca, na maioria das vezes, algo meio eloquente escapa, e de vez em quando eu falo muita merda. Eu sei disso.

PLAYBOY: Que tipo de coisas os fãs disseram na sua cara?

HETFIELD: Alguns fãs disseram, ‘Deixem o Napster em paz, cara’ – no caso dos suicidas [risos]. Mas isso vinha depois do ‘Metallica é demais, mano’. Então você transformava seu ‘obrigado’ em ‘vai se foder’. Eu entrei em várias discussões com fãs que só queriam ‘discutir’ o assunto. Essa pobre garota de Atlanta, eu a fiz chorar. Ela achava que dinheiro era maligno. Por que você não vai morar no Canadá ou em algum país socialista?

ULRICH: Se você deixa de ser um fã do Metallica porque eu não te dou minha música de graça, então vai se foder. Eu não quero que você seja um fã do Metallica.

HAMMETT: Eu ainda fico chocado com a reação que as pessoas têm. Eu achava que era tão óbvio: as pessoas estão pegando nossa música quando não deveriam, e nós queremos detê-las. Os computadores fazem com que isso pareça algo que não é roubo, porque tudo o que você está fazendo é apertar um botão. No fim da contas, roubar não é direito.

PLAYBOY: Vocês emputeceram muitas pessoas. No grupo de Usenet do Metallica, há um tópico ativo nomeado ‘Kirk e Lars são gays’.

HAMMETT: Isso só mostra uma completa falta de criatividade. É como chamar alguém de ‘gorducho’.

PLAYBOY: Talvez vocês tenham agido pelos princípios certos. Mas é difícil pras pessoas simpatizar com os ricos.

ULRICH: Sim, é. Então tudo é ‘aqueles astros de rock gananciosos’. Mas entenda, 80 milhões de discos depois, eu não sei o que caralho fazer com todo o dinheiro que eu tenho. Então agora podemos falar sobre qual é a real questão aqui? A verdadeira questão pra mim, é poder de escolha. Eu quero escolher o que acontece com minha música. Fica bem claro que o future é vender sua música online. Mas a lógica lhe diz que você não pode fazer isso se o cara ao lado está dando-a de graça.

PLAYBOY: Quando vocês começaram a campanha contra o Napster, vocês achavam que ela se arrastaria por tanto tempo?

ULRICH: Não tínhamos a menor ideia, não. Todo esse lance de ‘Lars Ulrich, garoto propaganda da propriedade intelectual’ não é algo que eu buscava.

PLAYBOY: Vocês ficaram surpresos quando foram vaiados no palco em setembro passado no MTV Video Music Awards?

ULRICH: Eu não percebi enquanto estava lá. Eu saí do palco, e as pessoas vieram me dizer, ‘wow, vocês lidaram bem com as vaias’. E eu tipo, ‘que vaias?’

PLAYBOY: Isso é surpreendente. Porque vocês pareciam realmente desconfortáveis.

ULRICH: Eu estava meio bêbado. Foi a pior entrega de prêmio, disparado, à qual eu jamais estive. Eu saí, e fui jantar com alguns amigos e tomei uns coquetéis.

PLAYBOY: Quando o criador do Napster, Shawn Fanning apareceu com uma camiseta do Metallica, eles cortaram pra você na plateia, e vocês pareciam horrorizados.

ULRICH: Você tem que entender, a coisa toda fora planejada. Eles me pediram para entregar um prêmio a Shawn Fanning. No dia anterior ao evento, os advogados do Napster o tiraram do lance. Eles achavam que eu faria algo rude ou inapropriado com ele. A MTV perguntou, ‘Você teria algum problema com ele aparecer usando uma camiseta do Metallica?’. Eu disse, ‘Manda ver’. Eu sabia de tudo aquilo – eu só estava fingindo que dormia. Eu pus a mão sobre meu rosto, balançando a cabeça. Foi tudo meio que armado.

PLAYBOY: O que seria necessário para que vocês desistissem da ação contra o Napster?

ULRICH: Eles já nos perguntaram sobre tentar entrar em acordo. A única coisa que queríamos era pagar nossos advogados e as custas do processo. E nós acreditamos que temos a habilidade de bloquear acesso em nome de qualquer banda que queira o serviço bloqueado.

HAMMETT: Críticas são algo com que lidamos desde o primeiro dia. Quando ‘Kill’em All’ foi lançado, não havia nada parecido com ele. Quando o Segundo disco saiu, nós tínhamos baladas, pelo amor de deus! Mesmos a porra dos nossos fãs nos critica. Nós temos coletes à prova de balas quando se trata de críticas. Para dizer a verdade, nos alimentamos delas.

HETFIELD: O Metallica ama ser odiado.

HAMMETT: Ama ser odiado, com certeza. Mesmo antes de estarmos na banda, éramos desajustados – então essa mentalidade nos cai muito bem. […]

Segue…

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