domingo, 6 de novembro de 2011
Axl Rose: ‘ Vocês São Todos Desprezíveis’ – Parte II
Outro detalhe revelador que emergiu do processo no fórum dizia respeito ao modo no qual a banda original de cinco membros tinha concordado em dividir seus lucros no grupo, isso ainda nos dias antes de terem se tornado tão espetacularmente bem-sucedidos. Depois de deduzirem a comissão do empresário, de 17.5 por cento, Axl descreveu como ele e Slash tinham criado uma fórmula bem peculiar para o rateio do resto do dinheiro. Durante a pré-produção de ‘Appetite’, ele disse, ‘Slash bolou um sistema para deduzir quem escreveu quais partes de uma música ou parte de uma música. Havia quatro categorias, creio eu. Eram letras, melodia, música – guitarras, baixo e bateria – e acompanhamento e arranjos. E nós dividíamos cada uma dessas categorias em vinte e cinco por cento. ’ Ele emendou: ‘Quando tínhamos terminado, eu tinha 41 por cento [dos rendimentos totais], e cada um deles tinha porções diferentes.’
Com o juiz calculando que a ‘porção diferente’ de Steven giraria em volta dos 15 por cento, o caso foi encerrado abruptamente seis semanas adentro dos testemunhos, quando no dia 24 de Setembro, Axl instruiu seus advogados a fazerem um acordo fora dos tribunais, concordando eventualmente em fazer um pagamento único em torno de 2.5 milhões de dólares a Steven, além de um acordo que cederia 15 por cento de todos os repasses de royalties relativos ao período no qual ele esteve na banda – ou seja, os dois primeiros discos. Steven agora diz que o cheque foi na verdade de US$ 2.25 milhões. “Não foi um acordo para me comprar. Era o que eles me deviam. E eu consegui meus royalties de volta.”
Apesar do dinheiro, ainda é motive de grande arrependimento para ele, diz Steven, que a banda original tenha acabado tão mal. “Eu me conheço, eu conheço Slash também, porque nós sempre falávamos sobre como poderíamos ser como o Aerosmith, como os Stones. Cara, eles estão juntos faz trinta, quarenta anos, porra.” Ele ainda disse que “a coisa mais dolorosa” tinha ocorrido ‘ao final do processo, quando todos os jurados me abraçaram e disseram ‘Boa sorte e se cuida’. Eles odiaram os outros membros do Guns N’ Roses. Quando eles estavam na cadeira das testemunhas, perguntavam pra eles, ‘Quantas vezes o senhor já teve uma overdose?’ e a resposta era vinte ou trinta vezes cada um. E ali estavam eles, expulsando esse cara legal que estava sob tratamento? Isso fez com que eles parecessem cuzões ainda maiores do que eram.”
Como já se previa, Axl ficou ultrajado com a decisão, sem conseguir admitir que Steven tivesse tido um papel fundamental na ascensão da banda ao estrelato. “Ele não escreveu nenhuma porra de uma nota em ‘Appetite’, mas ele me chama de fdp egoísta!” ele esbrevajou. “Ele tem conseguido viver daquele dinheiro, comprar uma caçambada de drogas e contratar advogados para me processar.” Ainda amargando até hoje os 15 por cento que o baterista recebe, agora se referindo ao acordo como ‘um dos maiores erros que eu já fiz na vida”, a perspectiva de Axl é que “ao longo do tempo, eu paguei por isso muito arduamente” por ter tido Steven Adler no Guns N’ Roses. Pode-se dizer que Adler também ‘pagou caro’ por estar na banda. Meses depois de seu acordo financeiro, ele teve uma overdose tão séria que desencadeou um derrame, deixando-o parcialmente paralisado. Além de sua banda ocasional, o Adler’s Appetite, com a qual ele toca intermitentemente hoje em dia, ele não tem feito nenhum trabalho sério – tampouco tem sido levado a sério – na indústria musical desde sua demissão em 1990.
Mas se Axl estava tendo seus problemas, o para o resto do Guns N’ Roses, dois meses depois de a turnê mundial ter finalmente acabado, estava de volta ao batente, como se costume, com Slash, em particular, agora trabalhando em músicas novas. Também havia o lançamento eminente de um novo álbum, intitulado ‘The Spaghetti Incident?’’, que chegaria às lojas em Novembro – uma incongruente e mal-recebida coleção de ostensivos covers de bandas punk que visava estabelecer as raízes da banda além de suas óbvias conexões com o heavy metal, mas que teve o efeito oposto, fazendo com que o grupo parecesse ainda mais fora de sintonia com a época do que seus similares do nascimento do grunge, agora chegando ao zênite com o então recente lançamento do novo e brutalmente descomprometido álbum do Nirvana, ‘In Utero’. Comparando, ‘The Spaghetti Incident?’ era uma compilação insatisfatória e confusa, desde seu título obscuro até a capa do disco – um close de um prato de espaguete enlatado. Tal como a [revista estadunidense] Rolling Stone apontou em sua resenha do trabalho, ‘o punk rock é às vezes melhor interpretado como um grito vigoroso de protesto contra a própria falta de poder, mas Axl não se conecta muito bem ao material punk rock em Spaghetti a não ser como um meio de pura agressão. Ele nem consegue xingar direito.
Covers díspares de bandas óbvias como o The Damned [‘New Rose’] e dos Dead Boys [‘Ain’t It Fun’] com covers de grupos que não tinham nada a ver com o punk como o Nazareth [‘Hair of the Dog’] e, pra acabar, do The Skyliners [cujo sucesso de 1958, ‘Since I Don’t Have You’ se tornaria o próximo single da banda], enquanto não erraram o alvo por completo, demonstravam uma banda forçando demais a barra. Isso fica mais óbvio quando ele adota um sotaque cockney de fazer chorar ao estilo de Dick Van Dike para uma versão do clássico demente ‘Down On The Farm’ do UK Subs, mas ainda mais desastrosamente com a faixa final do disco original, uma versão de ‘Look at Your Game, Girl’, escrita originalmente pelo psicótico Charles Manson.
Acompanhado por seu jardineiro, Carlos Booy, no violão, ‘Look At Your Game, Girl’, era algo que Axl tinha gravado sozinho tarde da noite sem contar ao resto da banda. Encaixando-a no fim do disco como uma faixa bônus ‘escondida’ e não inclusa na lista impressa na parte de trás do encarte, ela era, na verdade, uma mensagem pessoal para Stephanie Seymour, com quem ele tinha rompido oficialmente enquanto os toques finais estavam sendo dados à mixagem em setembro de 1993, chegando ao ponto de retirá-la dos créditos dados a ‘parentes próximos’ no disco – apesar dele manter o nome do filho dela, Dylan. “A separação teve um enorme efeito sobre Axl,” um amigo comentaria depois. “Aquela foi a primeira vez na vida dele que ele teve estabilidade. E daí ele ficou sem nada.”
Por muitas vezes, Axl tinha aparecido no palco – e no vídeo de ‘Estranged’ – usando uma camiseta de Charles Manson, mas gravar uma das músicas do assassino condenado causou ainda mais indignação – não menos dentro da própria banda, que se viu no papel de marido traído enquanto os críticos comentavam a faixa. Apesar da promessa forçada do grupo de doar quaisquer lucros provenientes da música para o filho de uma das vítimas de Manson, o gracejo provocou boicotes a todos os produtos da [gravadora] Geffen. Claro que Axl não foi o primeiro astro do rock a se tornar infantilmente interessado pelo culto a Charlie Manson. Na Inglaterra, os auto-intitulados ‘terroristas da arte’ Psychic TV tinham vestido camisetas de Manson muito antes de Axl sair de Lafayette, indo ao ponto de borrar paredes de camarins com os mesmos slogans deixados em sangue nas paredes da casa da vítima de assassinato Sharon Tate. Nos EUA, os padrinhos do grunge, o Sonic Youth já tinha gravado outra música de Manson, ‘Death Valley 69’ [que também tinha a poeta do punk, Lydia Lunch]. Quando os Lemonheads gravaram ‘Home is Where You’re Happy’ de Manson, tempos depois, o vocalista Evan Dando afirmou que ‘Charlie era apenas um bom símbolo do começo de minha vida nos EUA, de como as coisas estavam ficando deturpadas.
Gravar uma música de Manson não foi nada, entretanto, comparado ao ponto que o Nine Inch Nails chegou, para se ‘familiarizar’ com a ‘vibe’ de Manson, com o frontman Trent Reznor se mudando de fato para o endereço Cielo Drive # 10050 – o endereço do mais infame dos assassinatos da família Manson – com um estúdio móvel e gravando seu disco multi-platinado de 1994 ‘The Downward Spiral’ no local. “Todo mundo procura por um herói,” disse Reznor. Manson era simplesmente “o máximo em tabu em matéria de ícone.” Ou como Manson astutamente afirmou uma vez: “O mito de Charles Manson corrompeu mais mentes do que eu jamais fui acusado de tocar.”
No caso de Axl, ele inicialmente defendeu a escolha da música dizendo: “A música fala sobre como essa garota é louca e está jogando um jogo mental. Eu achei que era irônico que tal canção tivesse sido gravada por alguém que deveria conhecer as sinuosidades internas da loucura.” Foi uma decisão da qual ele acabaria se arrependendo, apesar de tudo. Falando com a Rolling Stone seis anos antes, ele anunciou que ele tinha recentemente decidido remover tanto ‘One In A Million’ e ‘Look At Your Game, Girl’ de todas as futuras cópias de seus respectivos álbuns. Não que ele estivesse pedindo desculpas, ele apenas achava que elas eram ‘facilmente mal-interpretadas demais’. Tendo dito isso, quase sete anos depois de tal afirmação, em uma simples navegada pelas páginas do [site musical] Amazon [em qualquer lado do Atlântico] revela que ambas as faixas ainda permanecem como parte dos dois discos.
O que Stephanie achou da canção jamais foi revelado. Mas é provável que ela não se importasse mais, de qualquer modo. A briga no Natal anterior tinha sido a gota d’água pra ela, e apesar da relação ter continuado à distância enquanto a banda estava na estrada durante o começo de 1993, quando Axl retornou a Los Angeles, Stephanie havia retomado sua carreira de modelo e começado secretamente a sair com o executivo milionário, e editor da revista Interview, Peter Brant. Uma reviravolta que incendiou Axl de tal modo que ele ordenou a seus empregados que obtivessem uma foto da esposa de Brant, Sandra, que ele levou até Yoda, de acordo com um ex-funcionário da Geffen, para ‘jogar um feitiço em Sandra para protegê-la de Peter, porque ele achava que ela também tinha sido chifrada como ele tinha sido, e ele tinha muita pena dela. ’
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