A briga entre OZZY OSBOURNE e o baixista BOB DASLEY é conhecida de todos. O imbróglio todo chegou ao ponto de a empresária / esposa do cantor, Sharon Osbourne, decidir regravar sua performance nos álbuns “Diary of a Madman” e “Blizzard of Ozz” nos relançamentos de 2002 — em que ele e o baterista Lee Kerslake foram substituídos por Robert Trujillo e Mike Bordin, respectivamente.
No entanto, em 2010 foi prometido o relançamento dos dois álbuns supracitados em comemoração ao 30º aniversário de ambos. Mas, desta vez, a fim de evitar polêmica, as partes originais de Dasley e Kerslake estariam intactas.Em seu website oficial, Dasley resolveu responder a uma série de questões relativas a este assunto, todas enviadas por fãs. Confira os principais excertos do bate-papo na íntegra logo a seguir.
Pergunta — Já foi dito que você e Lee Kerslake só estavam interessados em fazer dinheiro. Segundo consta, você e Kerslake foram requisitados para fazer dois shows em um dia no Palladium, em Nova Iorque, então ambos exigiram pagamento duplo e esta foi a razão pela qual vocês teriam sido demitidos.
Bob Dasley — Esta pequena insinuação é absolutamente sem sentido. Lembro-me exatamente do que aconteceu para lhe dizer de onde surgiu esta acusação. Tudo teve início enquanto ainda gravávamos o álbum "Diary of a Madman", no Ridge Farm Studios, na Inglaterra, em 1981. Ozzy recebeu um telefonema de Sharon, que estava agendando uma turnê pelos Estados Unidos, dizendo-lhe que algumas datas daquela então vindoura turnê poderiam ser duplas, ou seja, dois shows em um único dia. Talvez um show à tarde e outro à noite, ou um no início da noite e outro um pouco mais tarde. Ozzy ficou chocado com a notícia, porque acreditava que sua voz não suportaria dois shows em um dia. Então, ele chegou até nós e disse: "Caras, preciso que me ajudem com isso, a Sharon quer que eu faça dois shows em um dia e minha voz não vai aguentar". Lembro-me vivamente de suas palavras. Sabíamos que ele estava certo e ficamos ao seu lado quanto a esta proposta de shows duplos. Lee e eu, obviamente, já havíamos feito diversos shows deste tipo naquele ponto de nossas carreiras, mas ficamos ao lado de OZZY em seu pedido, porque isso poderia prejudicar sobremaneira sua voz em outros shows da turnê.
Agora, o porquê de Lee e eu termos sidos despedidos acredito que tenha acontecido porque não éramos do tipo "sim, senhor", não éramos inexperientes. Sabíamos como as coisas funcionavam no mundo dos negócios, mas as coisas acabaram mal com Sharon e OZZY, especialmente com Lee, pois ele e Sharon raramente conversavam. Quando estávamos à procura de um baterista antes de Lee chegar a bordo, OZZY tinha uma escolha número um, que era Tommy Aldridge, mas ele não estava disponível. Durante a turnê europeia, em 1980, após o lançamento do primeiro álbum, OZZY e Sharon começaram a me pressionar para me livrar de Lee e trazer Tommy Aldridge para a banda, algo que nunca concordei, eles estavam tentando consertar algo que não estava quebrado. Tendo conhecimento de que eles estavam errados, continuei a me negar a me livrar de Lee cada vez que eles me puxavam num canto e começavam com este assunto. De qualquer modo, como mostra a história, Lee e eu fomos usados, abusados e depois despedidos logo que as gravações de "Diary of a Madman" foram concluídas, e ainda não tivemos créditos por nossa performance e co-produção. E como a história também mostra, fui chamado de volta para trabalhar com eles por diversas vezes.
Pergunta — Por que você voltou a trabalhar com OZZY por tantas vezes?
Bob Dasley — Primeiro e antes de mais nada, ainda éramos bons amigos e produzíamos muito juntos. Gosto da direção musical e suas melodias vocais, e ele gostava de minhas letras e o modo como tocava, pessoalmente íamos muito bem. A primeira vez que fui chamado de volta foi para compor e gravar o que viria a ser álbum "Bark at the Moon" e naquela época Lee eu já estávamos processando Don Arden [N. do T.: pai de Sharon Osbourne, morto em 2007, foi empresário de grupos como SMALL FACES, ELETRIC LIGHT ORCHESTRA e do próprio BLACK SABBATH] e a Jet Records por não nos pagarem direitos nas vendas de "Diary of a Madman" e de "Blizzard of Ozz", e também por não nos creditarem em "Diary Of a Madman". OZZY e Sharon estavam nos ajudando a processá-lo, por isso naturalmente havia um desejo meu em trabalhar com eles novamente.
Pergunta — Sharon Osbourne divulgou o seguinte comunicado à imprensa, em 2002: “Bob Daisley e Lee Kerslake têm importunado OZZY e nossa família por muitos anos. Por conta de seus abusivos e desrespeitosos comportamentos, OZZY decidiu tirá-los das gravações originais. Fizemos com que algo negativo se tornasse positivo, adicionando assim um som renovado às gravações dos álbuns originais”. Você e Lee realmente “importunaram” OZZY ou qualquer membro de sua família?
Bob Dasley — Nunca. Antes de mais nada, nunca mais tive qualquer tipo de contato com OZZY desde 1997, e meu último contato com Sharon aconteceu bem antes disso. O único membro com o qual Lee e eu tivemos contato foi Don Arden, o pai de Sharon, no período em que em ele nos ajudou a processar os Osbournes. Embora Don tenha oferecido ajuda, ele não deu o braço a torcer, foi mais algo para que ele apontasse o dedo contra Sharon, com quem ele não falava a vinte anos, do que nos ajudar. Mas ele estava genuinamente abraçando a nossa causa, como bem demonstrou em sua casa, em Londres, num encontro que tivemos. Don ainda recebeu nossos advogados em sua casa para que eles pudessem procurar documentos que seriam vitais para o nosso caso. Sempre dei risada em uma parte do comunicado de Sharon em que ela diz: "Fizemos com que algo negativo se tornasse positivo, adicionando assim um som renovado às gravações dos álbuns originais". Quer dizer que insultar a memória de Randy Rhoads, arruinar álbuns clássicos é "positivo"? O que constitui "negativo" no mundo dela então? Minha mente se encanta com isso...
Pergunta — Você ou Lee tentaram envolver outros músicos em suas ações contra os Osbournes?
Bob Dasley — Certamente que não. Nem eu ou Lee entramos em contato com atuais ou ex-membros ou qualquer um da equipe de OZZY antes ou durante nossas ações contra eles. Assim como nosso caso com eles progredia, o ex-baixista deles Phil Soussan também os processou por direitos não pagos na faixa "Shot In The Dark", que aparece no álbum "Ultimate Sin". Mas nunca tive qualquer contato com ele. Houve uma menção pela imprensa de que ele e nós havíamos "unido forças", mas a ação dele é completamente independente da nossa. Sequer sei o porquê das ações deles. Carmine Appice também os processou em 1984, após ser despedido da turnê do álbum "Bark at the Moon", quando ele foi contratado para a turnê mundial inteira. Não tenho certeza de como o caso dele acabou, mas Carmine venceu o caso e foi pago pelos Osbournes, mas Lee e eu não temos nada a ver com isso.
Pergunta — Lee ou você processaram os Osbournes por qualquer outra razão que não fosse o pagamento de seus direitos nas vendas de “Blizzard of Ozz” e “Diary of a Madman” ou a falta de créditos de suas performances em “Diary”?
Bob Dasley — Não, a única vez que tomamos uma ação legal contra os Osbournes foi quando descobrimos que nossos direitos na vendas de "Blizzard" e "Diary" estavam indo para o bolso deles. Houve um incidente em 1985, quando o álbum "The Ultimate Sin" foi lançado sem meus créditos no processo de composição, com as primeiras 500 mil cópias da primeira prensagem omitindo meu nome. Eu ameacei processá-los por isso, mas logo eles corrigiram o erro. Eu co-escrevi muitas daquelas músicas com Jake E. Lee e escrevi todas as letras para a coisa toda e não fui creditado nas primeiras 500 mil cópias. Fora esses problemas específicos, não houve outros incidentes legais contras os Osbournes por mim e Lee.
Pergunta — Com respeito às letras, questionado a respeito de “Suicide Solution” e toda a controvérsia que gerou essa música quando um jovem se suicidou ao ouvi-la, Don Arden disse o seguinte: “Para ser perfeitamente honesto, duvido até que o senhor OZZY saiba o real significado dessa letra, se é que há algum significado por trás dela, porque seu conhecimento da língua inglesa é mínimo”. Muitos concordariam, e ainda que OZZY tenha afirmado em diversas ocasiões que ele escreveu as letras de “Suicide Solution”. Você gostaria de comentar a respeito?
Bob Dasley — OZZY com frequência disse que compôs essa letra, que fala sobre Bon Scott, do AC/DC, mas a verdade é que ele não compôs a letra dessa canção, eu a escrevi. Bon Scott foi um bom amigo que tive, eu seria o primeiro a ter escrito essa música para ele. Compus as letras sobre beber até a morte, fui inspirado pelo período em que OZZY estava bebendo demais, e a ‘solução’ a que me refiro é "líquida" e não a solução para o problema. Gostaria de adicionar que de jeito nenhum a letra fala sobre encorajar ao suicídio, muito pelo contrário, ela fala do oposto disso.
Pergunta — Ainda a respeito das declarações de Don Arden, quando diz que “o domínio da língua inglesa de OZZY é mínimo” e a própria confissão de OZZY que não sabe tocar qualquer instrumento, como ele pode ser creditado como o único compositor em “Bark at the Moon”?
Bob Dasley — Houve situações complicadas para mim e Jake E. Lee com respeito a contratos e registro de canções, então concordamos em "vender" tudo, ou seja, fomos pagos por um montante fixo tanto por termos tocado por termos composto no álbum. Co-escrevi as músicas com Jake e eu escrevi as letras com exceção de uma linha ou outra composta por OZZY. Jake e eu não pudemos ser creditado por composição por conta disso, entretanto fomos creditados por nossas performances. Foi absolutamente frustrante trabalhar tanto em uma gravação e depois ver alguém ter todo o crédito por compor, mas concordamos com isso e não há muito que possamos a fazer a respeito. A única coisa que fica na minha cabeça foi uma entrevista que OZZY concedeu à revista International Musician, assim que o álbum foi lançado. Quando perguntado como OZZY compôs o álbum inteiro sozinho, ele disse que fez tudo no piano com apenas uma mão. Fico pensando onde estava a outra mão.
Pergunta — Foi anunciado recentemente que as gravações originais de “Blizzard of Ozz” e “Diary of a Madman” serão lançadas em comemoração ao 30º ano de aniversário do lançamento dessas álbuns, com as gravações originais suas e de Lee. Se é realmente verdade, são novidades interessantes para os fãs. Você e Lee foram consultados para um acordo com os Osbornes? Se sim, você pode nos dizer algo a respeito do material bônus que virá nesses álbuns? E finalmente, vocês receberam os direitos por suas performances nas vendas dessas edições especiais?
Bob Dasley — Nem eu nem Lee fomos contatados, considerados ou consultados nas decisões no relançamento desses álbuns. Tenho uma pista do que pode ser este "material bônus". Com relação aos direitos, não entraram em contato conosco para uma reconciliação e nada nos foi prometido.
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