Por Mick Wall, traduzido por Nacho Belgrande.“Eis-me aqui sentado almoçando com um figurão de um dos últimos grandes conglomerados da indústria fonográfica restantes no mundo e ele me manda a real, sem rodeios.
“Eu dou cinco anos,” ele diz, entre garfadas de liguini. “Depois disso, o formato álbum estará morto.”Agora, isso não será novidade alguma para aqueles de nós que não comprou um – ou, mais pertinentemente, de fato ouviu um álbum em toda sua extensão duma vez no formato CD desde que o iPod mudou para sempre a maneira que acessamos nossa música.
Mas como alguém cuja carreira inteira dependeu do meio que se costumava chamar de ‘album oriented music’ «música feita para discos», ser informado por um pica-grossa da indústria «cujo nome será mantido em segredo porque ele não ousaria repetir isso para um gravador, não enquanto ele está recebendo um polpudo cheque todo mês» que o disco está inequivocadamente dando seus últimos suspiros, me deixou pensando nas implicações dessa declaração não-tão-chocante.
No meu próprio, egoísta, ponto de vista, eu imaginei o que isso significará para revistas como a Classic Rock, para a qual eu ainda resenho discos. Daí então eu me lembrei de há quanto tempo eu não resenho um disco que me embasbacou do começou ao fim (estamos provavelmente falando co começo dos anos 90 aqui).
Vamos encarar, a maioria dos discos - especialmente desde que o formato exigiu que eles fossem tediosamente longos – são pelo menos quatro ou cinco faixas mais longos do que deveriam ser. Eu recentemente resenhei o segundo disco do Black Country Communion – uma banda que eu honestamente admiro – e me vi desejando que ele fosse 25 minutos mais curto. Mesmo assim (eu o cronometrei) ele teria tido a mesma duração do quarto disco do Led Zeppelin, um dos maiores discos gênios-em-todas-as-faixas de todos os tempos.
Então, quer saber? Foda-se o disco. Quem precisa mais dele além de sanguessugas de gravadoras com mentalidade do século passado que só querem ganhar uma gratificação maior no fim do ano?
O futuro, como já secretamente sentimos em nossos instintos, vai girar em torno de streaming. E os beneficiários serão você, os fãs de verdade. Chega de empurrar garganta abaixo do público uma dieta de discos cheios de exageros e com desempenhos medíocres, no futuro os artistas mais espertos lançarão faixas – talvez EPs, ou mini-álbuns, mas somente quando tiverem algo especial para darem – ou uma consistência bem mais regular.
Não, não haverá tanto dinheiro a ser ganho com isso – pra eles. Mas isso não vai ter importância para nós, para os quais haverá muito mais música feita com o coração do que valerá a pena guardar, seja em nossos telefones, nossos iPads ou em sistemas de ‘clouds’, não importa. O que importa agora é a música e se ela vale uma pataca ou não.
Não deveríamos ficar tristes ou com raiva. No final dos anos 60, o rock foi construído em cima de artistas que produziam para álbuns. As redes sociais dos anos 70 eram as casas de shows. Ou você estava por dentro do Led Zeppelin, Black Sabbath, Deep Purple ou seja lá quem fosse ou você não sabia nada sobre eles a não ser seus nomes.
Mas isso foi antes. O disco pode estar morto. Mas o espírito que achou pela primeira vez sua expressão mais fiel pelo ambiente do disco de vinil permanece vivo e irá crescer com até mais força, agora que os ladrões e os vagabundos das grandes gravadoras estão finalmente dando com a cara no chão. O admirável futuro será como o passado dos tempos áureos. Não haverá mais rock esquemão ou MTV. O que importará será a música.
O álbum morreu. Vida longa à música feita para álbuns...”
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