quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Viver de Música: Bandas se foderão cada vez mais

Essas são as vozes que parecem estar se levantando. Em um debate na conferência SF MusiTech nessa semana, o fundador da Cracker and Camper van Beethoven, David Lowery argumentou que o investimento próximo de zero e a ganância de empresas como a Apple estão tornando a vida os artistas mais difícil do que nunca. O bem-articulado argumento reforçou a tese de que ‘o novo chefe é pior que o antigo chefe’, e foi postado na integra no Facebook. Eis as palavras de Lowery:

As gravadoras e os artistas não precisam reinventar seu modelo de negócio para adequarem-se à nova realidade. ELES JÁ O FIZERAM. È isso que temos feito nos últimos dez anos. E NÓS SABEMOS QUE ELE NA VERDADE É PIOR PRO ARTISTA”.



Nós sabemos disso empiricamente. Os fatos e as evidências estão aí. Vamos começar com a melhor hipótese. Vamos olhar apenas para a divisão de faturamento bruto e gastos. A situação onde o artista lança o disco por si próprio em sua própria gravadora. Okay, a grande maioria das vendas rola pelo iTunes e pela Amazon. Quanto o artista recebe? Bem, se você for independente, você recebe 61% do bruto, porque você precisa de um distribuidor ou de um atravessador para chegar ao iTunes. O iTunes em si fica com mais de 30% por apenas armazenar as músicas em seu servidor. ELES NÃO FAZEM MAIS ABSOLUTAMENTE NADA”.

É por isso que Steve Jobs era um gênio. Ele não tinha medo de ser ganancioso. Então agora um contrato com uma gravadora nos moldes antigos pode ter arrancado 20-35% do faturamento bruto [a maioria dos relatórios que os artistas recebem são errados e baixos porque eles não incluem os royalties mecânicos]”.

Os antigos contratos não eram muito bons se analisados de cara, mas se você começar a cavar, eles não eram tão ruins como as pessoas pensam. E eu vou mostrar a vocês como na maioria dos casos ELES ERAM UM NEGÓCIO MELHOR PROS ARTISTAS QUE O NOVO MODELO. 61% do bruto é muito melhor do que 20-35% até que você considere o fato que sob o novo modelo o artista é responsável por todos os aspectos da produção, promoção e distribuição do disco”.

O artista paga pela gravação, o artista paga por toda a publicidade, promoção e divulgação. E eis o elemento-chave. O artista absorve os custos de turnê. Você sabe que apenas um punhado de artistas vive apenas de turnês, certo? A maioria precisa de outro emprego ou necessita de apoio da gravadora pra excursionar”.

Sair em turnê só rende o suficiente para pagar a equipe e cobrir os gastos. Sair em turnê só faz sentido se aumentar suas vendas. Os artistas muitas vezes saem em turnê de graça na esperança que a turnê se pague à medida que as vendas subam.”

Na verdade, as gravadoras nos moldes antigos costumavam pagar aos artistas para saírem em turnê [na verdade ainda pagam]. Uma vez que você contabilize o apoio a turnês que era pago aos artistas, o novo modelo é ainda mais desgraçado pros artistas. A menos, claro, que você não excursione”.

Além disso, o novo modelo faz com que os artistas assumam TODO O RISCO. O risco de fazer um disco que não se paga. O risco de sair em turnês que não aumentem as vendas o suficiente e se tornem um prejuízo”.

Agora considere o iTunes e Amazon, que são as maiores empresas musicais do momento. Elas não dão NENHUM CAPITAL e NÃO TEM NENHUM RISCO e elas ficam com 30% do faturamento bruto em troca. Pelo menos o antigo sistema dividia um pouco do risco! Poxa, as antigas gravadoras não eram tão malignas se comparadas às novas!” ·
Então, essencialmente, O NOVO CHEFE no novo modelo são o iTunes e a Amazon [e o Google, indiretamente]. E O NOVO CHEFE é na verdade mais ganancioso do que o antigo”.

Agora, claro que o artista independente ainda pode vender tantos discos que a porcentagem mais alta de faturamento de 61% ultrapasse os custos iniciais. Mas eu aposto que esse não é o caso da maioria de seus artistas favoritos. Os custos inflacionados e as responsabilidades tornam O NOVO MODELO um negócio pior. Os artistas que passam melhor nesse novo sistema são poucos. È por isso que tantos artistas que aparentemente poderiam se tornar independentes não o fazem. Eles ainda usam as gravadoras. Olhe com atenção para o último disco de seu artista favorito. Ainda é de uma gravadora tradicional? Muitas das bandas bem-empresariadas e espertas ainda estão em gravadoras. Por que? Porque o NOVO MODELO é pior”.

Mas você nem precisava de todo esse argumento complexo para ver isso, certo? Você já viu o problema, não é?

No novo modelo, você tem essas empresas parasitas [iTunes, etc.] que tomam 30% do faturamento e não fornecem valor agregado. Por mais desgraçado que o modelo antigo fosse, não havia essa entidade parasitária gigante sugando 30% da renda bruta de nada. Isso deveria sugerir para qualquer pessoa inteligente que há algo de muito errado com o NOVO MODELO”.

Agora eu estou tão surpreso quanto vocês por termos desenvolvido um sistema ainda pior que o antigo. Mas os fatos são os fatos. Nós o fizemos. E não estou feliz com isso, tampouco”.

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