Uma entrevista com o cantor Bob Dylan feita em 1966 e divulgada somente agora traz a confirmação de algo que por anos ficou no campo da especulação: que ele foi dependente de heroína no início dos anos 1960.
“Eu me livrei de uma dependência de heroína em Nova York. Eu tive uma dependência muito, muito forte por um tempo. Gastava US$ 25 por dia [equivalente a cerca de US$ 180 hoje] e consegui me livrar”, disse Dylan.
A declaração foi feita durante entrevista de duas horas concedida ao amigo e jornalista Robert Shelton, durante um voo entre as cidades de Lincoln, no Nebraska, e Denver, no Colorado, em meio a uma turnê pelos Estados Unidos.
A gravação foi redescoberta durante as pesquisas para a publicação de uma versão atualizada da biografia de Shelton, "No Direction Home", publicada originalmente em 1986. A nova publicação deve coincidir com a comemoração dos 70 anos de Dylan.
“Havia boatos ao longo dos anos de que Bob Dylan estava envolvido com heroína, mas eu certamente nunca havia escutado ele mesmo dizendo isso”, comenta Mick Brown, jornalista cultural do diário The Daily Telegraph e que já entrevistou o cantor diversas vezes. “É extraordinário que ele pudesse ter falado sobre isso de maneira tão franca”, afirma.
Morte
Durante a entrevista com Shelton, Dylan também fala de maneira tranquila sobre a morte e sobre seu desejo de morrer após começar a ser chamado de “gênio” pelo público.
“A morte para mim não é nada... a morte para mim não significa nada desde que eu possa morrer rapidamente. Muitas vezes eu soube que eu poderia ter morrido rápido e eu poderia facilmente ter ido e acabado com isso”, diz ele. “Eu admito ter essa coisa suicida... mas eu já atravessei isso”, afirma.
Para alguém que, quase cinco décadas depois, continua gravando discos e fazendo shows, Dylan parece surpreendentemente desdenhar de seu trabalho, especialmente de suas letras.
"Eu não levo isso muito a sério”, diz ele. “Sei que isso não vai me ajudar um pouco mais a chegar ao céu, cara. Não vai me tirar da fornalha ardente”, afirma. “Isso não vai prolongar minha vida e não vai me fazer feliz", diz ele.
Feliz
Shelton pergunta então a Dylan o que o faria feliz. "Estou feliz", responde Dylan. Mas ele continua a dizer que a felicidade é "uma espécie de palavra barata". E retorna ao tema do suicídio.
"Eu não sou o tipo de gato que vai cortar uma orelha se não puder fazer alguma coisa. Eu sou o tipo de gato que somente se suicidaria", diz ele.
"Eu daria um tiro no cérebro quando as coisas ficassem ruins. Eu pularia de uma janela... cara, eu iria me matar. Você sabe que eu posso pensar na morte abertamente, cara", completa o músico.
"Descobridor"
A entrevista de Dylan a Shelton dá uma ideia interessante sobre o estado de espírito de Dylan na época. Em março de 1966, ele já era uma superestrela global. Ele era considerado um músico de protesto, um poeta e um profeta – uma das vozes mais importantes de sua geração.
Atrás dos palcos, ele parecia ter dificuldades em lidar com a atenção e com a expectativa das pessoas. Mas ele confiava em Robert Shelton, o homem apontado como seu “descobridor”.
Shelton era um crítico musical em 1961 quando viu Dylan tocar e escreveu um texto descrevendo-o como “uma nova face brilhante na música folk”. No dia seguinte, Dylan recebeu a oferta de assinar um contrato.
Os dois ficaram amigos próximos, e Dylan deu a Shelton um acesso sem precedentes ao seu círculo mais próximo de amigos e familiares.
Além da nova versão da biografia de Shelton, as fitas com as entrevistas concedidas por Dylan serão também usadas em um filme.
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