sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Kiss: a mais longa e reveladora entrevista de Eric Singer

Em fevereiro de 2010, ERIC SINGER, baterista do KISS, deu ao site KISSFAQ.com sua mais longa e reveladora entrevista. O baterista não negou fogo e esclareceu dúvidas que há muito devem pairar sobre a cabeça dos fãs da banda. Segue a tradução de parte da entrevista.

por Tim McPhate, traduzida por Nacho Belgrande

 Os fãs de KISS sabem que Eric Singer é um baterista talentoso. Mas talvez mais notavelmente, Eric Singer é repleto de paixão. E, como ele consegue apontar, ele algumas vezes pode sair pelas tangentes. “Eu vou tentar falar vagarosamente, de maneira clara e coesa porque eu tendo a falar a cento e sessenta km/h,” ele avisa. “Mas quando você me pega cedo de dia como hoje, eu sou geralmente mais lento.”

Ao longo de duas horas e meia com Eric, nós cobrimos vários assuntos com café pra ele e bebidas energéticas pra mim. Às vezes parece mais uma conversa do que uma entrevista. Durante nossa discussão ele é interrompido duas vezes por ligações de negócios uma vez que o KISS está pronto para ir à Europa, começando com uma turnê promocional semana que vem. Quando perguntado sobre seus planos futuros com a banda, Eric brinca, “Eu olho no KISS Online – é onde eu geralmente descubro o que faremos e onde iremos.”

É tudo negócios, como de costume para Eric Singer. “No fim do dia, gostem as pessoas ou não, isso é o que eu faço pra viver,” ele diz. “Eu toco bateria pra viver. Quando eu saio em turnê, é como alguém que vai trabalhar. Não é seu emprego típico, é bem singular e diferente. Mas é meu local de trabalho e eu sempre tentei tratá-lo seriamente. Eu só posso atribuir parte de minha longevidade e qualquer quantidade de sucesso nos negócios provavelmente mais ao fato de eu entender como as coisas funcionam e o que é necessário para estar numa banda.”

Eric fala abertamente quando o assunto é sua carreira e ele fica feliz de compartilhar sua filosofia sobre como ele tem conseguido manter-se estabelecido em um negócio onde as dificuldades se empilham contra as chances de sucesso. Quando o assunto vira para Paul Stanley e Gene Simmons, há um tom relevante em sua voz.

“Gene e Paul, no final das contas são os meus chefes. Mas não é uma situação típica de chefia. A maioria das pessoas não sai com seus chefes e viaja com eles e faz qualquer coisa social com eles. Tipo, ontem eu liguei pro Paul pra falar de relógios de pulso porque ambos gostamos de relógios de pulso. Nós conversamos sobre coisas que não tem nada a ver com música. E a relação da maioria das pessoas com seus chefes não seria dessa maneira. É uma situação única a que temos, a relação entre todos os membros da banda. Eu olho pra Gene como um tio. Eu sei que é meio engraçado porque ele só é 8 anos mais velho do que eu. Mas ele é quase uma figura paterna.”

Enquanto o calendário diz 2010, é difícil imaginar que a história de Eric com o KISS começou 19 anos atrás. Pra ele, o KISS é mais do que negócios. “Quando eu toco no KISS, minha família é Gene, Paul e Tommy, e Doc e os caras da equipe. Aquilo se torna seu mundo. È com quem você está e com quem interage diariamente.”

Então prepare-se enquanto cobrimos com Eric, dentre outros tópicos, muitas coisas do KISS, bateria, seu pai, o líder da banda, a reunião, a indústria musical, Olivia Newton-John (sim, Olivia Newton-John) e os outros discos e projetos nos quais ele participou ao longo de uma carreira de sucesso que agora já perdura mais de um quarto de século.

KissFAQ: Eric, obrigado por tirar um tempo hoje para conversar com o KissFaq.

Eric Singer: Sem problema, Tim

KissFAQ: A turnê "Sonic Boom Over Europe" está programada para começar em maio e correr até o fim de Junho. Você pode compartilhar quaisquer detalhes sobre o que tem sido discutido em relação ao set list?

Eric Singer: Nós não chegamos a esse ponto ainda. Nós falamos disso no final da turnê pelos EUA. Todo mundo começa a pensar adiantado, mas nós não pensamos adiantado demais porque você tende a viver no momento e a tarefa que está na sua mão. Se você estiver em turnê tocando em shows agora, é nisso que você está se focando e se concentrando.

Eric Singer:  Nós vamos pra Europa para fazer um lance promocional, incluindo o programa  de televisão alemão chamado “Wetten, Dass...?” (“Quer Apostar...?”). É um programa muito famoso. 80 por cento da Alemanha, Suíça e Áustria assistem ao programa e eles dizem que 50 milhões de pessoas o assistem. Eles fazem ele seis vezes ao ano. É quase como um “American Idol” querendo dizer que é um evento realmente grande.

Eric Singer: Uma vez que comecemos os ensaios em mais um mês mais ou menos, e agora que tivemos uma folga um do outro, vamos falar disso. Vamos sair na quarta-feira e uma vez que estivermos viajando juntos e passando tempo juntos, todas essas conversas irão vir à tona e isso será discutido. Geralmente Paul tende a ser o chefe quando o assunto é o set list. Mas ele geralmente passa por todos nós e pergunta o que achamos e que canções queremos tocar. Eu sempre tento encaixar algumas faixas legais ou obscuras e Paul diz “Nah.” Geralmente Tommy e eu estamos tentando convencê-lo a tentar tocar algo obscuro.

KissFAQ: Você tem que encher o saco dele um pouco mais.

Eric Singer: Você sabe, eu adoro os três primeiros discos do Kiss. Então se nós tocarmos qualquer coisa daqueles primeiros três discos, eu estou feliz. A gente tem lançado umas ideias, sabe como quando o Cheap Trick tocou o disco “In Color” inteiro, e esse tipo de coisa.

Eric Singer: A gente chegou a fazer isso com “Alive!”. Em um ponto, nós o tocamos e tivemos que desistir de algumas canções por causa do tempo dos shows. As pessoas algumas vezes não entendem que há muita logística envolvida com estar em turnê. Tipo como quando estamos na Europa num baita casting num festival, e você tem um tempo certo e você tem um montante X de tempo pra tocar. Bem você tem que cortar algo, você não pode simplesmente tocar por quanto tempo quiser. Algumas vezes você pode, mas algumas vezes você tem horário pra parar. Por exemplo, quando você toca no Madison Square Garden, você não pode passar um minuto além das 11 da noite, ou eles te cobram uma taxa por hora. Todo empregado no edifício recebe uma hora de hora-extra..

Eric Singer: É isso que acontece com esses lances de sindicato algumas vezes. E eu não estou falando mal dois sindicatos, mas a realidade é que algumas vezes há muita logística e esse tipo de coisa ocorrendo nos bastidores. Quando um fã vai ao show e diz “Eles só fizeram isso e isso mas não aquilo,” eles não entendem que talvez uma banda tenha que parar numa certa hora e aquilo é tudo que eles tem permissão pra tocar.

Eric Singer: De qualquer modo, eu saí pela tangente (risos).

Eric Singer: Eu acabei de perguntar pro Tommy dia desses, nós conversamos sobre trabalhar em algumas canções diferentes do “Sonic Boom”. E ele disse que falou com Paul sobre armar essa discussão. Semana que vem falaremos sobre isso e ver o que está rolando.

Eric Singer: O que quero dizer é que eu gostaria de tocar umas músicas diferentes. Mas você tem que lembrar, bandas são muito enraçadas. Se elas não conseguem uma reação certa dentro da primeira ou segunda vez tocando-a, ou se eles sentem que a reação não é boa, muitas vezes o seu empresário dirá, “Caras, essa canção não tá rolando. Vocês tem que se livrarem dela” E daí o povo fala, “Por que eles tiraram aquela música? Eles só tocaram ela um par de vezes.”

Eric Singer: É meio que uma faca de dois gumes. Por mais que você queira fazer os fãs felizes, você também tem que ser feliz. É muito duro quando muitas pessoas estão vindo aos shows querem ouvir as músicas com as quais elas sejam familiarizadas. Vamos encarar isso de frente, então muitas vezes você vai ver uma banda e eles lançaram um disco novo e você está ouvindo os velhos sucessos, digamos Elton John ou o The Who, e de repente eles comecem a tocar uma canção nova e o povo diz, “Eu não conheço essa música.” E eles apenas meio que ficam parados ali e parece uma ducha de água fria e a energia baixa. Uma banda capta isso muito sensivelmente.

KissFAQ: Já que você disse isso, como você acha que o novo material do “Sonic Boom” se saiu na parte norte-americana da Alive 35 tour?

Eric Singer: Eu acho que bem. O que realmente ajuda, por exemplo, com “Say Yeah” está no começo da música quando Paul convida a plateia a participar e cantar. É por isso que Paul é um dos maiores frontmen do rock e é um mestre de cerimônias. É por isso que chamam esses caras de 'lead singers'. Porque eles matam no peito. Paul é realmente ótimo em animar a plateia e fazer com que as pessoas se sintam incluídas e queridas quando elas estão lá. Eu tenho que dizer, quando o assunto é performance e entretenimento, Gene e Paul estão entre os melhores. Eles são mestres no entretenimento. Pense em todos os grandes frontmen que vieram e sumiram, e eu quero dizer vieram e se foram. Pra mim, Mick Jagger é o ápice, e ainda o faz, mesmo em sua idade. Eu estava tocando com Alice Cooper alguns anos atrás e nós abrimos para os Stones e eu aprendi muito só com os três shows que fizemos abrindo pra eles. Não só aprendi muito, eu achei um novo tipo de respeito por Mick Jagger e os Stones, especialmente por Mick. Mick se apresenta em um nível que é inacreditável, não apenas pra sua idade, e ele mata a maioria dos caras mais jovens.

Eric Singer: Pra mim é isso que Paul faz. Paul tem conseguido manter um alto nível no que tange a entretenimento e ser um frontman. Só há um punhado de caras nessa categoria em minha opinião. Freddie Mercury, Mick Jagger, Paul Stanley, Steven Tyler, David Lee Roth.

KissFAQ: Você não vê muito desse tipo de frontman hoje em dia.

Eric Singer: Não, não vê. Voltando um pouco eu gostava de Scott Weiland. Axl Rose era um bom frontman. Eu acho que Josh Todd do Buckcherry é um bom frontman. Ele sabe como trabalhar a plateia. Ele tem o visual certo, a vibração certa.

Eric Singer: Eu estava pensando justamente sobre isso ontem, será interessante ver quanta longevidade uma banda como aquela terá. Pra mim, eles são apenas uma boa banda de rock. É isso que eu gosto neles – eu gosto de boas bandas de rock e hard rock. Eu acho que eles sabem como escrever canções legais e pegajosas. Agora, se eles vão ter fôlego para durar como um Kiss, um Aerosmith ou um Motley Crue? Veremos.

KissFAQ: Depois da turnê Europeia, você pode falar de algum plano para uma turnê do KISS pelos EUA no próximo verão?

Eric Singer: Eu realmente ainda não sei. Há conversas e algumas propostas, mas como em tudo no KISS, há sempre muita conversa sobre muita coisa rolando.

 Eric Singer: Se você perguntar a Gene, Gene, sempre vai dizer, “Temos muita coisa sendo feita,” e algumas pessoas provocam ele ou fazem piadas. Mas quer saber? Gene tem muita paixão pelo KISS. Ele ama o KISS. O KISS é a vida dele. Ele é um cara muito direcionado e trabalhador. Tudo que ele faz é sempre sobre o KISS. Mesmo quando ele está fazendo outras coisas que as pessoas acham que não tem nada a ver com o KISS. É por causa do Kiss que ele consegue fazer essas outras coisas. É por isso que Gene realmente trabalha duro com o KISS. Ele realmente se importa com o que a banda faz.

KissFAQ: É difícil de acreditar que aquela coisa que começou em 1973 ainda está rolando.

Eric Singer: O KISS é o bebê de Gene e Paul e eles não vão deixar ninguém mais dizer a eles o que devem ou não fazer, ou podem ou não podem fazer. A melhor analogia é um lar. Se você comanda uma família, você tem o direito de criar seus filhos e comandar seu lar do jeito que você quer porque é seu e é seu direito fazer isso. Seu vizinho do lado ou sua irmã ou seu irmão podem dizer “você é rígido demais com seus filhos” ou “você é mole demais com seus filhos.” Bem, você sabe de algo, é sua escolha com pai.

Eric Singer: Eu acho que é do mesmo jeito com uma banda. Basicamente você tem uma banda e ela se torna bem-sucedida, ela vira tipo uma mini-empresa. Você tem o direito de administrar ela do jeito que você quer. Outras pessoas podem não gostar disso, mas, é a beleza do lance.

KissFAQ: Falando agora do “Sonic Boom”, dados os comentários de Paul e Gene alguns anos atrás, um novo disco do KISS não parecia que se tornaria realidade. Eu quero voltar para 2007 quando a banda entrou em estúdio para regravar a compilação de faixas que compõem “Jigoku Retsuden” e disco 2 no álbum. Você se lembra por quanto tempo vocês estiveram no estúdio?

Eric Singer: Fizemos 15 músicas. Eu fiz a bateria em menos de um dia e meio. Eu lembro ter feito 12 músicas no primeiro dia e as outras três na tarde seguinte em algumas horas. Não foi nem um dia e meio.

KissFAQ: As canções foram gravadas de modo 'ao vivo' similar ao novo material do 'Sonic Boom' e como você definiria a abordagem da banda?

Eric Singer: A maioria foi. Algumas das coisas foram feitas ao vivo quando tocamos juntos. E daí para uma outra porção tentamos aprender o arranjo da canção, e tentamos aprender as partes bem apuradamente porque nós tentamos ser fiéis. Tentamos estar no espírito da coisa.

Eric Singer: Mas eu não vou tocar exatamente do mesmo jeito porque no fim das contas eu não toco como Peter Criss. Ao mesmo tempo, Peter Criss não toca como eu. Então se você for pedir pro Peter para imitar o canal de bateria de uma faixa do “Revenge”, não vai soar daquele jeito. Isso seria como eu tentando imitar ele, não vai soar exatamente a mesma coisa porque todo mundo tem seu próprio estilo e sentimento. A maneira de bater na pele ou dar um acorde na guitarra.

Eric Singer: Eu tenho que dizer que Tommy captura o estilo de guitarra de Ace muito bem porque Tommy cresceu sendo pesadamente influenciado pelo KISS. Ace era um de seus heróis da guitarra junto com Jimmy Page e Ronnie Montrose. Quando você é influenciado por alguém, é por isso que você acaba parecendo com eles, porque é simplesmente natural.

Eric Singer: Você tem muitos bateristas que sempre dirão que John Bonham é o maior baterista de rock e eles vão tocar muito parecido com John Bonham. E ninguém enche o saco deles. As pessoas vão achar legal, “Wow, que legal, o cara toca igual ao Bonham.” Com o Tommy, por um lado, ele recebe muitos elogios por conseguir duplicar o estilo de Ace muito bem. Eu acho ótimo que ele consiga isso. Daí outras pessoas dizem “Ele soa demais como o Ace”. E eu digo, “Bem, espere aí, qual dos dois? Porque não dá pra ser dos dois jeitos.” Se ele não tocasse as músicas fielmente como o Ace, as pessoas diriam” Bem, ele não toca os lances do Ace direito.”

KissFAQ: Isso me lembra do que os fãs diziam sobre Vinnie Vincent e Bruce Kulick. Com Vinnie, eu ouvi fãs dizerem, “Ele assassinou os clássicos.”

Eric Singer: Você está certo. Quando você tinha Bruce e Vinnie tocando na banda e tocando as músicas antigas do KISS, as pessoas diziam, “Ah, eles não tocam as músicas do jeito certo.” Você pode esperar um segundo? Eu só quero pegar um pouco mais de café pra ficar mais animado.

KissFAQ: (risos) Eric, eu nunca teria imaginado que você fosse um bebedor de café.

Eric Singer: Tá brincando? Eu sou um cafeólatra (risos).

KissFAQ: Eu nunca fui muito de beber café. Eu sou mais de bebidas energéticas.

Eric Singer: Sabe aquele lance de energia por 5 horas?

KissFAQ: Aquela porra me deixa subindo pelas paredes.

Eric Singer: Eu bebo um daqueles umas duas horas antes do show. Eu me certifico de que tomo muitas vitaminas em turnê e eu também bebo Pedialyte para manter todos os minerais em meu organismo de modo que eu não fique estafado e mal-humorado.

KissFAQ: Eu acho que descobrimos seu regime secreto para turnês;

Eric Singer: Eu tô te dizendo. Funciona pra mim. Me dê um segundo, eu estou usando Skype e meu laptop.

KissFAQ: Você é fã de Mac? Ou PC?

Eric Singer: Não, eu tenho um Mac. Eu acabei de comprar um novo fim-de-semana passado. Eu comprei um MacBook Pro.

KissFAQ: Eu sou viciado em Mac. Iphone, MacBook, iPod.

Eric Singer: Eu tenho um iPhone também.

KissFAQ: Voltando ás regravações. Alguns fãs são da opinião de que as regravações podem ter reacendido o combustível criativo da banda. Você diria que as regravações foram um ponto determinante na decisão de Paul e Gene em gravar um novo disco de estúdio do KISS, ou foi mais uma decisão de negócios?

Eric Singer: Eu não acho, não da minha perspectiva. Esse é apenas meu ponto de vista. Eu acho que a razão pela qual eles fizeram as regravações foi pra licenciar para comerciais e coisa do tipo.

Eric Singer: Todos os masters daquelas gravações são de canções antigas e pertencem ao selo. Para qualquer banda, se você regrava, você fica dono. Isso é uma prática muito comum. Eu acho muito engraçado quando tantas bandas que não sabem nada sobre como o lado do negócio da música funciona, eles esquecem que é um negócio e que muitos desses selos fazem a maioria do dinheiro.

KissFAQ: A regravação de “Calling Dr. Love” está no novo comercial do Dr. Pepper Cherry então o exemplo do licenciamento está bem aí.

Eric Singer: Exatamente.

Eric Singer: Sabe, eu lembro de que “Free Ride” do Edgar Winter foi usada em um comercial do [carro] Buick. Um de meus amigos estava tocando em sua banda na época. Ele era um dos caras que foi e regravou a música porque o cara que a cantou originalmente, Dan Hartman, estava morto. Obviamente, Edgar não era dono das fitas master, mas ele era esperto e ousado o suficiente pra dizer, “Eu sou o dono dessa música. Eu vou regravá-la.” E ele o fez com caras diferentes. E se você ouvir, está no fundo de um comercial e a maioria das pessoas não vai saber necessariamente que é outro cantor. Na verdade o cara que cantou “Free Ride” pra isso foi o Robin McAuley do McAuley Schenker Group.

Eric Singer: Você tem que lembrar que muitos desses caras não ganhavam tanto dinheiro no começo da época das turnês. Os acordos comerciais não eram tão bons, você tinha muitos empresários e homens pilantras no meio musical. Então os músicos só queriam tocar, eles diziam, “Eu não me importo, eu só quero tocar minha guitarra.” Bem, o problema é que, e eu entendo esse ponto de vista, porque é um monte de bosta. Mas o problema é que se você não se importa, daí todo mundo se importa. Advogados, empresários, agentes – eles se importam muito porque eles sabem quanto dinheiro está ali. Se você não se importa, eles vão se importar e adivinhe, eles vão ficar com todo o dinheiro.

KissFAQ: Voltando a “Sonic Boom”, eu lembro de ler que as onze faixas que acabaram entrando no disco eram as únicas gravadas. É verdade que não sobrou nenhuma música?

Eric Singer: Na verdade sobrou sim. Havia uma canção que Gene trouxe pro estúdio e que ele realmente gostava muito. Por alguma razão, houve diferença de opiniões quanto a como encaixá-la, no que se refere a continuidade.

KissFAQ: Você se lembra do nome dela?

Eric Singer: Eu não me lembro do nome dela, Gene ficava mudando e tentando re-escrever a letra e re-escrever toda a melodia. Ele gostava da música e a melodia que ele tinha e estava tentando re-escrever a letra e o tema para tentar e encaixar ela no contexto do disco.

Eric Singer: A música tinha um riff musical bem legal. E eu sei que o Gene de fato gostava dela e realmente queria tentar incluí-la. E eu gostava dela. Mas eu lembro de Tommy e Paul não acharem que ela se encaixaria com as outras músicas, no que diz respeito a estilo e continuidade, então ela acabou sendo limada. É a única coisa que eu posso pensar de qualquer outra coisa que tenha sido gravada. E a gente só fez uma versão demo da música, a gente nunca fez um master final. A gente gravou uma versão e ninguém curtiu tanto assim então nem fomos mais atrás. Gene pegou aquela ideia básica da demo e ficou tentando rescrever as letras e a melodia mas ela não foi desenvolvida além desse ponto.

KissFAQ: Alguma verdade sobre a quanto você usar seu primeiro kit de bateria no estúdio para a gravação de "Sonic Boom"?

Eric Singer: Não, não, não. Eu tenho um monte de kits mais velhos. Eu uso coisas diferentes o tempo todo para gravar. Eu de fato usei meus kits mais velhos. O primeiro kit que eu tive eu nem tenho mais, que era um kit azul brilhante chamado Dixie, que eu acho que era na verdade uma dissidência da Pearl, ironicamente, porque é isso que eu tenho tocado por 25 anos. E eu realmente usei um de meus kits mais velhos – meu primeiro bom kit, meu primeiro kit profissional – eu realmente o usei em umas das gravações.

Eric Singer: Se você olhar na capa de 'Carnival of Souls,' aquele é um kit antigo que eu usava na banda do meu pai. É um kit de bateria Rogers White Marine Pearl de 1964 que foi fabricado em Cleveland, Ohio. As baterias Rogers eram feitas originalmente em Cleveland, Ohio. Bateristas sabem que quando você fala dum kit Cleveland Rogers, eles sabem que é um dos antigos que foram feitos antigamente em Cleveland. Aqueles são geralmente considerados os mais desejáveis e colecionáveis para pessoas que colecionam. Aquele era um kit bem singular. Eu o comprei num bazar de garagem por quase nada em idos de 1979 ou 1980. Honestamente, eu paguei $150 dólares por ele.

Eric Singer: Aquele é um kit que eu usava na banda do meu pai, eu tinha uns outros dois que eu usava, mas aquele eu usei para as últimas quatro ou cinco turnês que eu estava tocando na turnê do meu pai. Eu tocava aquele kit o tempo todo. Aquele é um kit bem raro, não por que é um kit do KISS ou o meu kit, é raro por causa da configuração do kit. Uma pessoa que seja colecionadora de baterias Rogers salivaria com aquele kit. Ele é meio que o cálice sagrado das baterias Roger porque é o que eles chamam de bateria de madeira de concha dyna-sonic, que são muito raros, em madrepérola branca e tem o tamanho das peças que são de 14 polegadas por 14 polegadas. E isso é muito raro evidentemente para as baterias Rogers daquela época. Então a bateria tem algo único sobre ela e é muito desejável para um colecionador. Como eu disse, eu a comprei num bazar de garagem quando era garoto por nada. Há muitas histórias por aí sobre pessoas indo a bazares de garagem e achando uma guitarra rara ou um kit de bateria 'vintage'.

KissFAQ: Então você tocou com ela em “Carnival Of Souls”?

Eric Singer: Eu na verdade toquei-a em uma faixa. No “Carnival of Souls” eu usei um bando de kits diferentes de bateria. Eu usei uns dois kits Pearl diferentes, eu usei um kit que eu estava tocando na turnê naquela época, que era o prata brilhante que eu estava tocando em turnê por cerca de 1994 quando fomos para a Austrália, Japão e América do Sul. Esse é o kit que eu usei no “Carnival of Souls”, assim como outros kits da Rogers.

Eric Singer: E daí em uma faixa eu usei aquele kit pequeno porque o kit pequeno que eu tinha usado pras demos de “Carnival of Souls”. Toda vez que eu ia pro estúdio com Gene e Bruce para gravar demos, era num estúdio pequeno. E pra facilitar a coisa, ao invés de lidar com transporte, o kit é bem pequeno. Ele tem um bumbo bem pequeno. Esse bumbo só tem 20 polegadas. Era mais fácil pra mim jogá-lo em meu carro e levá-lo ao estúdio das demos porque era muito mais fácil de movimentar e montar; então eu não tinha que lidar com equipe técnica para se esgueirar entre um bando de baterias enormes. Era meu kit para demos, e acabou sendo um kit de excelente som. Então eu o trouxe pro estúdio pras sessões de gravação de “Carnival of Souls” porque eu tinha estado usando-o o ano todo para as demos e achei que talvez pudesse servir pra algo. E acabou que eu ousei em uma música, era a balada...

KissFAQ: “I Will Be There”

Eric Singer: Sim. Eu estava tocando com baquetas tipo pincel. Eu acho que há uma parte de bateria mais pra frente naquela canção, eu acho que eu o usei naquela canção e foi só. Mas rolou desse kit estar armado no estúdio no dia que estávamos fazendo a sessão de fotos. O fotógrafo entrou – eu não lembro quem era (Ed. William Hames)-- e aquele kit estava armado com os microfones nele então nós tiramos fotos com o equipamento em volta dele. E só calhou dele estar lá naquele dia e acabou na capa do disco.

KissFAQ: Você falou de Paul Stanley, o frontman, como você descreveria Paul Stanley, o produtor, e seu papel?

Eric Singer: Eu tenho que dizer que Paul Stanley foi bem leal e simpático com todo mundo durante o processo de gravação. Se ele não gostava de algo ou não achava apropriado, alguém tinha que tomar a decisão final. Trabalhávamos em um riff e dois caras gostavam dele, e dois não gostavam. Em algum ponto, alguém teria que tomar a decisão final em um take específico, em um solo, em uma melodia. E esse era Paul, e esse é o trabalho do produtor.

KissFAQ: A faixa na qual você canta, “All For The Glory” foi escrita por Paul. A canção foi escrita originalmente para que Paul mesmo cantasse, ou com você especificamente na cabeça?

Eric Singer: Bem, aquela era originalmente uma canção diferente. Antes de gravarmos ou ensaiarmos, quando sentamos para conversar sobre algumas ideias que Paul tinha uma canção que ele tocava originalmente que ele queria usar pra mim. E era uma faixa mais pra “Hard Luck Woman”. Tinha aquela vibração meio Rod Stewart, similar a “Hard Luck Woman”. Peter tinha uma voz muito boa, você sabe, aquela voz rouca e suja. E eu amo a voz de Rod Stewart, ele é um de meus cantores favoritos.

Eric Singer: Então essa canção no original é uma música que Paul tinha escrito há muito tempo atrás e ele trouxe a música, e eu tinha tocado na demo original, ironicamente. Eu nem estava na banda e eu tinha tocado na demo de anos atrás. E daí o Paul diz, “Lembra dessa música?” E eu, “Sim.” E Greg Collins, que co-produziu o disco com Paul e foi o engenheiro, amou a música e achou que ela era perfeita para minha voz. Eu achei que era perfeita para minha voz também. Mas quando chegou a hora, Paul ficou muito convicto de que esse disco deveria ter todas suas faixas escritas somente pelos membros da banda. Essa música era dele com outra pessoa, um amigo dele. Eu tô achando que é uma das razões, bem duas razões. Ele queria músicas bem rock and roll. Nada meloso, comercial ou no meio... porque “Hard Luck Woman” não é uma faixa hard rock. Eu acho que ele queria que fosse um disco bem de hard rock, na cara, em que todas as músicas fossem escritas pelos membros da banda, sem autores de fora. E eu acho que é por causa disso, esses foram os dois fatores determinantes. Pessoalmente, eu gostei muito da música e acho que teria sido ótima para mim.

KissFAQ: Você lembra qual era o nome dela?

Eric Singer: Não, não lembro. Quando Paul tocou a faixa, eu lembrei de entrar no estúdio e gravar a faixa. Eu estava na turnê solo de Paul quando o fiz.

KissFAQ: Então isso foi em 1989?

Eric Singer: Sim, gravamos-a em um estúdio em Manhattan. Eu estou tentando lembrar quem mais tocou nela. Era Paul e eu e uns dois amigos do Paul tocando guitarra. Eu esqueci quem era os outros caras mas um deles era o co-autor que Paul tinha escrito outras coisas com ele. Então eu acho que essa foi a razão principal, e não se encaixava no estilo.

KissFAQ: Quero ficar em 1989. Você mencionou a turnê solo de Paul e gravar algumas demos com ele. Há um rumor onipresente na fábrica que abriga todos os boatos sobre a história do KISS e um deles é que você tocou em “Hot In The Shade”. Alguma coisa que você tocou com Paul naquela época acabou entrando no “Hot In The Shade”? E uma dessas faixas era “Forever”?

Eric Singer: Não. Eu acabei tocando em um monte de demos para “Hot In The Shade” mas eles me disseram que todas foram regravadas por Eric Carr. Havia um outro boato de que Kevin Valentine tocou em “Forever” porque ele fez algumas daquelas demos para “Hot In The Shade” também.

KissFAQ: Sim, o nome dele está na casa dos boatos, também.

Eric Singer: A maneira com a qual Kevin Valentine se envolveu com qualquer coisa a ver com o KISS foi por minha causa. Eu cresci com Kevin e fui ao ensino médio com ele em Ohio. Ele era um par de anos mais velho que eu. Eu costumava vê-lo tocar em uma das badas locais quando eu tinha uns 15 anos de idade. Ele tocou no meu baile de formatura do colegial quando eu tinha 16 anos (risos).

Eric Singer: De qualquer modo, eu conheço ele há muito tempo e eu estava fazendo as demos para “Hot In The Shade” porque Eric Carr vivia em Nova Iorque. Todo mundo, Bruce, Gene e Paul estavam vivendo em Los Angeles. Pra resumir, Paul me pediu para tocar em algumas demos porque naquele ponto todo mundo fazia suas demos individuais e as levava pro KISS. Foi apenas algo num estúdio pequeno com uma bateria eletrônica. Eu toquei em “King of Hearts”. No que mais eu toquei? Eu toquei numas quatro, “King of Hearts” foi uma delas e eu não consigo lembrar do nome das outras e no que elas viraram.

Eric Singer: Geralmente eu sou bom pra lembrar quando ouço uma faixa e saber se sou eu ou não pelo tipo de enchimento que eu dou. Todavia, muitas vezes quando eu toco com uma banda em particular eu tento me encaixar no estilo deles e não necessariamente emular o baterista mas tentar emular o estilo da banda. Por exemplo, eu toquei com o Brian May e a gente tocava canções do Queen. Eu estava tentando aprender as partes de bateria do disco do Queen do jeito que Roger Taylor as tocou, apesar de não ter o sentimento de Roger. Mas eu definitivamente tentei tocar as partes de bateria razoavelmente corretas se modo que elas soassem bem como o arranjo certo de uma canção do Queen.

Eric Singer: Foi a mesma coisa naquela época, eu apenas tentei tocar do jeito que o KISS tocava naquela época. Mas Kevin Valentine tinha me tido que ele tinha feito a demo para “Forever”. Ele achava que era sua trilha de bateria que eles tinham usado no disco e eu perguntei a Paul, e Paul disse que não e que Eric foi e refez todas as partes de bateria naquelas músicas.

Eric Singer: Mas naquele disco, ironicamente, muito dele foi feito com uma mini-bateria eletrônica. Era uma bateria modelo 'V', um kit de bateria 'V' Roland, eu não me lembro exatamente. Eu lembro que era um kit eletrônico que eles usaram.

KissFAQ: Então é Eric Carr em “Hot In The Shade”?

Eric Singer: Eles me disseram que Eric refez todo o lance. Eu perguntei sobre o que eu toquei e sobre “Forever” porque Kevin Valentine achava que ele tinha tocado nela. E eu perguntei a Paul, “De quem é essa trilha? Porque o Kevin achou que você usou a trilha demo dele.” E Paul disse, “Não, Eric a refez”. E eu sei que Eric refez todas as que eu toquei porque quando eu ouvi o disco quando saiu, eu não reconheci nada naquelas canções e disse, “Sim, eu acho que essa é minha parte de bateria.”

KissFAQ: Esse é o tipo de minúcia que os fãs de KISS curtem.

Eric Singer: Uma pergunta não tão óbvia sobre “Revenge”. Você lembra da faixa “Do You Want To Touch Me Now”, escrita por Paul e Dave “Snake” Sabo do Skid Row, que deveria ter entrado em “Revenge”, mas não foi?

Eric Singer: Sim, não foi finalizada. Era na verdade um riff legal. A razão pela qual lembro do riff é porque havia uma seção quebrada no meio da faixa. Eu lembro que eu fui numas de batida tipo “Sunchine of Your Love” do Cream.

Eric Singer: Musicalmente era uma canção muito legal. Tinha muitas partes boas mas eu lembro que Bob Ezrin achou que ela não tava no mesmo nível. Nós tentamos colocar as melhores canções no disco e mais uma vez um produtor toma a decisão executiva sobre o que entre e o que não entra. E Bob simplesmente achou que a canção era legal e que a música era ótima, mas não achou que a melodia estava bem desenvolvida o suficiente. E então nós tínhamos que terminar o disco porque estávamos no fim da linha e prontos pra seguir em frente. Eu acho que já estávamos mixando algumas das faixas naquela época.

Eric Singer: Para Bob, a canção não era boa o suficiente. Eu achava que poderíamos usá-la mais tarde. Eu achei que talvez em algum ponto Paul pudesse ir e revê-la e usá-la como faixa bônus em um disco ao vivo ou um KISSology ou achar um jeito de usá-la, mas nunca rolou.

KissFAQ: Então há uma gravação dessa música?

Eric Singer: Ah sim, há.

KissFAQ: Eric, manda pra mim (risos)

Eric Singer: (risos) Bruce Kulick é quem tem todos esses lances.

KissFAQ: Nós vamos chegar no Bruce então.

Eric Singer: Eu sei que ele tem pelo menos uma cópia da música. Eu não tenho nada porque naquela época eu não estava nem oficialmente na banda. Eles não me davam cópias de nenhuma das demos ou coisa do tipo. Eu tinha algumas fitas de trabalho que eles me deram quando eu comecei a trabalhar no material para aprendê-lo. Bruce tinha todas as cópias das trilhas básicas porque ele tinha que levar aquela coisa pra casa e trabalhar pra compor as partes da segunda guitarra e os solos. Então ele levava elas pra casa como fitas de trabalho.

 KissFAQ: uma das coisas boas sobre o KISSology é a oportunidade de rever a história da banda toda. Assim, o material em vídeo de shows no KISSology III da formação de 'Revenge' mostra uma unidade cofiante e musicalmente afiada que fazia jus a qualquer coisa no catálogo do KISS. Com um pouco de visão, quais são suas opiniões sobre a formação de “Revenge” e seu lugar na KISStória?

Eric Singer: Bem, eu só posso dizer isso. Eu escutei a “Revenge” recentemente. (pausa). Olha, eu sou provavelmente meio suspeito porque eu estou envolvido com a banda e toquei naquele disco. Eu acho que é um disco muito, muito, muito bom. Eu acho que ele ainda se sustenta. Eu sei que é diferente. Eu não gosto de comparar a banda original e aquele estilo de música com o que a banda fez depois. A banda fez muita coisa legal sem Ace ou Peter, apesar do que os puristas ou fãs mais fanáticos quiserem dizer.

KissFAQ: Eu sou um grande fã de discos como “Lick It Up”, “Creatures” e “Revenge”

Eric Singer: Sim, é como dizer, “eu só gosto dos Rolling Stones quando eles tinham Brian Jones na banda e é só.” Ou, “Eu só gosto do Mick Taylor na guitarra quando eles gravaram 'Sticky Fingers' e 'Exile On Main Street'”. Pra mim, aqueles são meus discos favoritos dos Stones porque eu gosto daquelas canções e eu curto o som da banda. Mas aquela não é a versão original dos Stones. Mas quer saber, é a versão dos Stones que pra mim tem o maior impacto porque é a minha era dos Rolling Stones. Eu os vi nos anos sessenta no “Ed Sullivan Show” e tudo aquilo, mas quando eu me tornei mais conhecedor deles e passei a gostar mesmo da música deles, é “Goats Head Soup,” “Exile On Main Street” e “Sticky Fingers.” Aqueles são os meus favoritos e o que eu penso serem os melhores discos dos Stones. Hey, é só minha opinião.

Eric Singer: Você tem que lembrar que há pessoas que cresceram com o KISS e a versão deles do KISS é a de “Crazy Nights”.

KissFAQ: Vamos falar de novo sobre “Carnival of Souls”. Tal como “Music From The Elder, ele causa reações nos fãs do KISS, de um jeito ou de outro. Paul e Gene já disseram que não são particularmente fãs do disco, enquanto Bruce diz que ele apoia o disco. Como você vê o disco?

Eric Singer: Bem, vamos por isso em perspectiva. Bruce é um amigo querido e eu respeito a opinião de todo mundo. Mas pense nisso, por que o Bruce gosta tanto dele?

KissFAQ: Ele co-escreveu quase todo o disco.

Eric Singer: Então, claro que ele vai ser suspeito pra falar. Ele não vai dizer, “eu trabalhei bem duro, eu co-escrevi todas aquelas músicas e eu não gosto dele.”

Eric Singer: Mas se for pra eu ser realmente honesto, eu acho que é um disco ruim? Não. Há muitos riffs legais e coisa muito boa. Quero dizer, eu escuto ele de vez em quando e penso, “Hey, tem coisas muito interessantes.”

Eric Singer: Eu não gosto da mixagem final. Se aquele disco tivesse sido mixado para soar maior e mais pesado, teria sido melhor. Quando gravamos aquelas trilhas básicas originais, nós tínhamos um som monstruoso pra caralho naquele disco. E por alguma razão Toby Wright foi mixá-lo, Toby decidiu fazer algo alternativo sob o ponto de vista da mixagem. Mas você deixa que o produtor faça o trabalho dele.

Eric Singer: Olhando pra trás, eu queria que ele tivesse sido mixado mais na cara como um disco mais tradicional do KISS, apenas tornando-o grande e bombástico. Eu acho que o disco teria tido mais impacto nesse sentido, eu acho que eu gostaria mais de ouvi-lo. Eu acho que as pessoas gostariam mais dele porque ele teria mais peso. Se ele tivesse ido atrás de algo mais perto de “Revenge” - eu estou falando mais no som e na equalização do mix. Se ele tivesse feito algo mais bombástico e mais perto de “Revenge” ou “Creatures of the Night”, eu acho que o disco teria tido um som monstruoso e eu acho que as pessoas teriam uma opinião diferente dele.

Eric Singer: Em outras palavras, se você vai deixar um disco pesado, faça ele soar fudidamente pesado. Faça com que ele soe como um trovão. Esse é meu ponto de vista.

Eric Singer: Voltando à sua pergunta original, lembre-se que Gene e Paul tem estado em todos os discos do KISS. Eles estavam lá desde o começo e tinham a visão do que eles queriam com que o KISS soasse, o que eles pensam pro tipo de som que o KISS deveria ter, e como eles querem que o KISS sore. Então, quem tem a melhor perspectiva lá?

KissFAQ: Acontece que eu realmente gosto do disco.

Eric Singer: É tudo uma opinião a qual todos nós temos direito e todas as opiniões são válidas. Mas se você quer ser realmente justo com isso, a realidade é que Gene e Paul criaram o som do KISS juntos com Ace e Peter no começo. Mas se ouvir qualquer disco, mesmos em Ace ou Peter, há sempre um sabor de KISS no som por causa de Paul e Gene. O ponto de direcionamento por trás das coisas terem um estilo e um sentimento KISS é aqueles caras tocando e cantando naqueles discos. Eu acho que eles têm o melhor barômetro do que eles realmente sentem que é um bom disco do KISS.

Eric Singer: Não quer dizer que não é um bom disco, apenas não é um bom disco do KIS. O “Carnival of Souls” é um bom disco do KISS? Não. É um bom disco? Sim.

KissFAQ: Alguns fãs que não gostam dele prontamente o rotulam de o disco 'grunge'.

Eric Singer: Olha, eu amava o que estava rolando nos anos noventa. Eu amava Alice In Chains, Stone Temple Pilots. Eu ainda acho que o Alice In Chains é uma das bandas mais subestimadas.

 Eric Singer: Vamos encarar isso, ficou meio embolado. Você como uma banda influencia uma geração de bandas que vêm e sem perceber você está sendo influenciado por elas. Todo aquele estilo de música foi muito popular e eu não estou dizendo que Gene e Paul estavam tentando entrar na moda mas todo mundo estava ouvindo ao que rolava na rádio e na MTV e o que estava acontecendo e muito daquilo era muito leal. E eu acho que todo mundo estava ouvindo aquele estilo de música e curtindo e sendo influenciado por ele.

Eric Singer: O bom de fazer o “Sonic Boom” é que você pensa, “Você sabe por quem fomos influenciados? Somos influenciados por nós mesmos.” O KISS é influenciado pelo KISS. Isso é o que o KISS faz. Sem desculpas nem motivos. Isso é o que fazemos. Nós somos uma banda de rock and roll e é sobre momentos felizes e diversão. Tem um pouco de sensibilidade pop nisso. É isso que é o KISS. E a gente foi e fez apenas um disco do KISS, sem tentar ser alguém que não o KISS. Eu acho que é aí que está a beleza disso. Pra mim, é ai onde a banda está e é aí que a banda deveria estar. Você não está competindo com ninguém. Você só está competindo com si próprio, para fazer discos melhores do que os que você fez antes. Você não está competindo com outras bandas, o KISS está em seu próprio departamento. A história e o legado provam isso.

KissFAQ: Você voltou ao “Sonic Boom.” Você pode expandir mais sobre o que a banda tentou capturar com esse disco?

Eric Singer: Eu acho que a coisa mais importante, não importa quem toque na banda, é lembrar que há um som e um estilo do que tem sido criado com o KISS. E aderindo a isso -essa é a marca registrada do que é o KISS. Então ir mais nesse estilo é o que tentamos fazer. Ninguém estava tentando fazer um disco 'retrô'. A ideia toda quando estávamos conversando sobre fazer um disco mais parecido com os dos anos 70 era mais tipo “Vamos voltar à maneira de como os discos eram feitos nos anos 70 e quando a banda começou.”

Eric Singer: É a isso que Gene e Paul estavam se referindo mais. A banda se encontrava naqueles dias no começo em uma sala e começava a lançar ideias e trabalhar nos riffs e ir pro estúdio e gravá-los. Não haviam autores de fora escrevendo músicas. Foi a banda quem escreveu aquelas músicas. Eles ensaiavam as músicas e as trabalhavam e as gravavam. E adivinha só, essa foi a planta e o ponto principal de vista ao fazer “Sonic Boom.” Era bem mais sobre isso, não, “Vamos lá e tentar refazer 'Love Gun' de novo.” era tipo, “Não, vamos voltar. Como é que 'Love Gun' foi feita? Como que 'Hotter Than Hell' foi feito? Como aqueles discos foram gravados? Qual era a vibração da banda naqueles dias?

Eric Singer: Girava em torno de um bando de caras se juntando em uma sala trabalhando em riffs e tocando-os ao vivo e tocando-os de verdade. A fita de duas polegadas era o estilo antigo de se gravar. Pra mim, essa foi a coisa, se você quiser chamar assim, mais retrô. Era mais sobre o estilo e a abordagem de fazer discos.

Eric Singer: Claro, nós usamos tecnologia de Pro Tools para mixar e coisa do tipo. Você não pode fazer exclusivamente da maneira antiga. Demoraria uma eternidade pra gravar um disco. A beleza de fazer um disco com a tecnologia moderna é que você pode fazer um mix bem tosco e salvar no computador e quando você tocá-lo de novo, você diz, “eu quero reajustar o solo de guitarra e deixá-lo um pouco mais alto ali.” Ao invés de ir ter que refazer todos os movimentos manualmente, a beleza dos computadores é que a tecnologia torna tudo mais fácil e expede tudo.

KissFAQ: Você não usou um metrônomo eletrônico, correto?

Eric Singer: Sim, todas aquelas trilhas de bateria foram feitas sem trilhas de metrônomo e todas elas foram feitas ao vivo em dois ou três tomadas. Talvez duas canções foram feitas no quarto take. Nada além disso.

Eric Singer: E quer saber, essa é a maneira que todo mundo faz discos. Os primeiros discos que eu fiz, é como eu os fiz. Eu fui e ensaiei e toquei as canções e você pega as melhores performances e algumas vezes você corta e une algumas dessas performances na fita. Esses eram os dias antigos de sentar ao longo de edições de fitas e alguns daqueles caras eram realmente bons nisso – eles eram como os guardiões das chaves no apartamento de editar fitas. O que era perigoso quando as pessoas não estavam usando trilhas de metrônomo e coisa do tipo. É tipo uma forma perdida de arte.

KissFAQ: Voltando a 1995, quais suas opiniões sobre a Convention Tour?

Eric Singer: Tenho que dizer, olhando para trás, fazendo aquela turnê de convenções inteira que fizemos aquele ano, que Gene é quem realmente acreditou que daria certo. Eu lembro de pensar que estávamos cobrando 100 dólares pelo ingresso e que era muito dinheiro.

Eric Singer: Agora quando eu penso nisso, eu acho que era um negócio inacreditavelmente bom. Você está brincando? Mas ninguém sabia disso. Você tem que lembrar que era eles tentando achar uma maneira diferente de fazer as coisas. E eu acho que foi bem único. Acabou sendo pra mim, e acho que pra todos nós, uma experiência realmente fantástica. Foi muito trabalho duro e dias longos, mas eu tenho que lhe dizer, as recompensas estavam lá. Porque uma vez que íamos lá e tocávamos no fim da noite e algumas vezes apenas enrolarmos e fazermos uma jam em certas partes das canções – o relaxamento da coisa toda e a interação de ter os fãs bem ali e autografar e passar tempo com eles depois. Aquela foi uma experiência verdadeira pra um fã.

Eric Singer: É uma grande pena que mais fãs não conseguiram participar disso porque eu acho que eles teriam compartilhado provavelmente do mesmo ponto de vista. Eu não conheço muitas pessoas que foram e ficaram desapontadas. Eu ficaria surpreso se elas ficassem porque eu achei que foi uma grande experiência pros fãs.

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