segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Programa de talentos na TV: queimando o filme da banda

Por Mick Wall, traduzido por Nacho Belgrande.

Aconteceu de passar pela sala escura na qual minha esposa e filhas estavam noite passada assistindo ao (programa televisivo britânico de ‘Talentos’) ‘The X Factor’ e eu me vi verdadeiramente envergonhado de admitir que eu fiquei em frente à TV por quase um minuto.

Naturalmente, eu tenho assegurado que meu crânio tenha mecanismos de segurança embutidos que me permitem filtrar tamanha bobagem sem necessidade de terapia em longo prazo. Mas eu fiquei lá, por tempo suficiente, para notar um dos aspirantes a jovens astros de amanhã (mas não depois de amanhã) falando sobre como eles estavam preparados para trabalhar para tornar o sonho de suas vidas tornarem-se realidade.

Justo, eu fico quase tentado em dizer. Exceto que eles não estão tendo trabalho algum, estão? Eles estão entrando num concurso no qual eles esperam com seus dedos dos pés e das mãos cruzados que consigam pegar o menor caminho para o topo daquele túnel de merda ainda comicamente conhecido como ‘Top 40’.

Para conseguir isso, eles vão alegremente tentar se favorecer dizendo a você como a mãe deles morreu de câncer, o pai deles foi atropelado por um caminhão, e que eles fazem trabalho voluntário no hospício da cidade deles.

A única coisa que eles não estão dispostos a fazer é enfiar a cara, ficarem bons em sua música, e daí andarem com seus próprios pés, sem terem que baixar suas calças e deixarem que algum velhote pele e osso cheio de botox de uma gravadora coma a bunda deles.

Você quer saber o que é trabalho duro? Passar horas, semanas, anos, trabalhando sozinho em seu quarto, onde não há nenhuma platéia descerebrada para aplaudir sua mini-saia, nada de jurados para dizerem que você tem que pular pra cima e pra baixo. Ninguém para se virar a não ser pra si próprio, enfrentando o fracasso sozinho, sabendo que tudo dará em nada se você não se garantir de verdade, lá fora onde ninguém se importa com você.

Então esqueça ao X Factor e siga essas simples regras.

No. 1: Aprenda a tocar uma porra de instrumento. Isso significa muita prática, muita dor, e nenhuma garantia de sucesso.

No. 2: Se sua motivação é fazer muito dinheiro, ótimo, mas esqueça da música, vá pra faculdade ao invés disso e estude administração. Fazer boa música nunca se trata de fazer dinheiro. O dinheiro é um produto potencial eventual, mas colocá-lo como prioridade é botar o carro na frente dos bois. Você não vai se mexer muito rápido.

No. 3: Uma vez que você tenha ficado muito bom em seu instrumento, ou tenha provado que você pode de fato cantar – esqueça disso. Saia e vá viver sua vida. A menos que seu sonho seja ser figurante em uma boy band, você precisará escrever suas próprias músicas, e as únicas canções nas quais o público com algum discernimento está interessado são aquelas que dizem alguma coisa.

No. 4: Tendo feito tudo isso, prepare-se para uma vida de pedreiras e fracassos na estrada tocando em todo buraco quente do país, dentre os quais muitos que ninguém nem sabe que existem. Toque em todos esses, especialmente os bem vagabundos, como se você estivesse no palco do O2 de Londres, e leve cada minuto disso a sério.

No. 5: De jeito nenhum – nunca – aceite participar de um programa como o X Factor. A menos que você seja um fã devoto de boy bands como o JLS – e se você o for, deve ter menos de 12 anos de idade, e logo não deveria estar lendo isso, vá para a cama agora, garota – deve ter ficado óbvio que ninguém que tenha aparecido no X Factor jamais será levado a sério por ninguém de novo. Pelo menos não em termos musicais.

Agora vai lá, escreva uma música de sucesso, e eu te vejo de novo daqui a um mês, valeu?

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