Por MICK WALL
Traduzido por Nacho Belgrande
“Estou partindo para Londres para ouvir ao novo disco do ‘Loutallica’.
Ou melhor, estou indo pra Londres para sentar em um porão em algum hotel desconhecido com um bando de outros escolhidos da mídia, para ouvir ao disco do Loutallica. Nossas bolsas e telefones serão colocadas em uma ‘sala segura’ enquanto o fazemos, já fomos informados. E biografias e letras serão fornecidas. Ah, obrigado.
A partir disso eu devo ser cobrado a escrever uma extensa resenha para a [revista inglesa] Classic Rock Magazine. Isso não deve ser exatamente a maneira mais promissora que você esperaria que alguém comentasse algo a respeito de um lançamento aparentemente tão importante. E você está certo. É provavelmente o pior modo, na verdade. Eu vos garanto que dentro de uma semana eu não vou lembrar-me de nada do disco que mereça ser mencionado.
Não que eu, fiquem certos, esteja reclamando. Ninguém está apontando uma arma pra minha cabeça. Eu apenas quero de verdade ouvir, mesmo que de passagem por agora, ao que eu pareço estar sozinho quando acho que pode ser um dos discos do ano.
O que eu quero comentar aqui é o quão simbólica essa situação patentemente ridícula é pra tudo que está errado sobre a por assim dizer indústria musical ‘moderna’.
Eu não culpo o Metallica. Eles sabem que na hora que o disco chegar às mãos da mídia, ele automaticamente estará na net, também, e nós sabemos como eles se sentem em relação a isso, historicamente. Eu me sinto do mesmo modo sobre aquelas cópias de meus livros que as pessoas se sentem à vontade para xerocar e distribuir entre elas de graça. Você se sentiria da mesma maneira se trabalhasse a semana toda e não fosse pago por isso.
Eu tampouco culpo o departamento de relações públicas deles. Eles só estão fazendo o que a gravadora manda, e fazendo isso da melhor maneira que sabem.
Eu culpo a nós todos por termos nascido na época e lugar errados. Se fôssemos todos adolescentes no meio dos anos 60, nada dessa merda seria necessária. Quando isso tivesse virado lugar-comum 50 anos depois, a maioria de nós estaria morta e o resto não ligaria pra isso.
Caso fôssemos adolescentes daqui a dez anos, isso também não estaria acontecendo porque até á não haverá mais mídia impressa que mereça consideração. Já não há muita agora. A música estará disponível em tempo real simultaneamente no mundo inteiro. Na verdade, não haverão ‘eventos’ de lançamento como um disco do Metallica, porque até lá eles estarão fazendo streaming de faixas de maneira regular, e todos nós já teríamos ouvido o que eles estavam aprontando no estúdio com Lou dias após a conclusão dos ‘floor recordings’, como eles as denominaram, terem sido finalizadas.
Enquanto isso, todavia, vivendo como vivemos nos dias de agonia da miserável indústria musical – nada mais de viagens de graça, nada mais de almoços com bebidas, nada mais de diversão – nós nos encontramos em situação morosamente estúpidas ao mesmo tempo em que os magnatas do disco das antigas ralam para inventarem uma maneira pela qual eles ainda consigam nos vender rodelas brilhantes de plástico.
Nas palavras da banda: Die! Die! Die!”
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